O ladrão americano ao qual o título original de “Trapaça”, filme dirigido e co-escrito por David O. Russell, se refere se chama Irving Rosenfeld (Christian Bale, em atuação indicada ao Oscar 2014 de Melhor Ator). No decorrer do primeiro ato do longa, o diretor nos apresenta ao modo de operação de Irving, um vigarista de primeira linha que utiliza a sua rede de lavanderias como uma fachada para a aplicação de diversos golpes, desde aqueles que envolvem o roubo de dinheiro até aos que tratam da venda de obras de artes falsificadas, sempre tendo como comparsa a sua sócia e amante Sydney Prosser (Amy Adams, em atuação indicada ao Oscar 2014 de Melhor Atriz).
Quando são pegos em flagrante pelo agente da FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper, em atuação indicada ao Oscar 2014 de Melhor Ator Coadjuvante), Irving e Sydney são obrigados a colaborar com uma operação encabeçada por Richie e que envolve a investigação em torno de políticos da cidade de Nova Jersey, como o prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner), bem como deputados e senadores de outros Estados norte-americanos, além da máfia italiana – todos interessados em investir no projeto de reconstrução de Atlantic City e, especialmente, na instalação de redes de cassinos nesta localidade.
O lado interessante de “Trapaça” é ver o quão atrapalhados são os planos de Richie DiMaso, que parece agir em prol dos seus próprios interesses, em busca da notoriedade e do respeito que o sucesso de uma operação como essa pode lhe trazer, colocando o próprio FBI em algumas situações que fogem daquilo que é considerado ético e correto. Ao mesmo tempo, também é interessante acompanhar a jornada particular vivida por Irving no decorrer do filme, principalmente as transformações pelas quais ele passa e que se refletem diretamente em seus relacionamentos pessoais – incluindo o com a esposa Rosalyn (Jennifer Lawrence, mal escalada e em atuação indicada ao Oscar 2014 de Melhor Atriz Coadjuvante) -, bem como na amizade que ele desenvolve com Carmine e sua família.
Quando do lançamento de “Trapaça”, a crítica norte-americana foi logo apontando o filme dirigido e co-escrito por David O. Russell como uma espécie de “Scorsese genérico”. Entretanto, por mais que o filme tenha alguns temas que lembrem alguns assuntos recorrentes na filmografia do diretor ítalo-americano, a verdade é que “Trapaça” me parece ter muito mais influência de um Quentin Tarantino do que de um Martin Scorsese, especialmente na sua aura vintage, na trilha sonora repleta de clássicos da música norte-americana dos anos 70 e na vontade de ser cool a cada novo frame.
Indicado a 10 Oscars 2014, “Trapaça” é um filme que tem um roteiro que parece uma teia, em meio a tantas situações e conexões novas e a tanta verborragia por parte dos personagens. A obra muito comunica, muito tenta passar, tem muito assunto para contar e muitos personagens cheios de conflitos e isso acaba fazendo com que o longa seja cansativo, em muitos momentos. Se “Trapaça” se sustenta com certa qualidade é por causa do excelente trabalho de reconstituição de época presente no filme e em decorrência do seu excelente elenco – não à toa, os quatro atores principais estão indicados à premiação mais importante do cinema.