Sai da Frente é a primeira experiência do comediante Amácio Mazzaropi (1912-1981) na tela grande. Com muitos anos de experiência no teatro mambembe e no circo, com fama já consolidada no rádio, Mazzaropi, então com quarenta anos, encarna o humilde motorista Isidoro Colepicula, proprietário de um caminhão caindo aos pedaços chamado “Anastácio”.
Filme da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, com direção e roteiro de Abílio Pereira de Almeida (nome famoso do Teatro Brasileiro de Comédia), é um nonsense situado numa São Paulo que ainda não é uma complicada metrópole. Com direito a sanduíches enormes, despertadores gigantes, um automóvel que reage automaticamente ao mundo, um escritório cheio de pessoas com nomes de meses, e os mais variados tipos urbanos, como policiais, funcionários públicos, um judeu e uma atriz de circo.
O roteiro é frouxo, oscilando na qualidade da construção dos diálogos. Partindo da ideia de levar uma mobília para Santos e se envolver em variadas confusões, a história é construída para ser uma sucessão de gags aparentemente independentes, tendo apenas Isidoro e Anastácio como frágil fio condutor. O jeitão caipiresco de Mazzaropi ainda está engatinhando, e ele consegue ser engraçado mesmo com visível desconforto em falar frases pomposas do mestre Abílio.
Com algumas críticas sociais aqui e ali, ao retratar a burocracia nas repartições públicas ou o palavrório vazio e tendência à corrupção dos políticos, o filme também tem dois momentos de tietagem explícita (ou sutilíssima ironia?): o quadro de Getúlio Vargas em uma repartição e o cachorro “Coroné” saudando-o em outra cena.
Tudo tem uma cara de test drive. Da poderosa Vera Cruz em testar a sua mais nova aquisição, que lhe custou tanta grana; do mestre Abílio que procura dar ao filme um tom circense, pastelão, um diálogo de programa radiofônico, para tornar o astro mais à vontade; e Mazzaropi, mais desajeitado em ser ator frente às câmeras, do que ser um personagem desastrado.