Um professor de história (Jake Gyllenhaal) é um homem introvertido, com poucos amigos, que vive uma rotina aparentemente entediante. Ele tem uma namorada linda (Mélanie Laurent), mas sua relação com a moça é fria. Certo dia, ele assiste a um filme e depois percebe que um dos personagens, um figurante, é idêntico a ele. Ele então começa a buscar informações sobre seu sósia e vários questionamentos surgem à tona. Bem, não li o livro homônimo do Saramago cujo filme foi baseado, mas definitivamente fiquei curioso ao saber que mais um filme baseado em obra do escritor português seria adaptado para o cinema. A sinopse me deixou instigado, e depois de assistir ao filme, fiquei bem curioso em ler o livro. Pena que o filme não é tão questionador e intenso como muito provavelmente é o livro. Já li Saramago antes e sei que ele era um excepcional romancista capaz de envolver o leitor em uma intensa jornada de auto conhecimento, claro, por exemplo, em uma de suas obras mais conhecidas: Ensaio Sobre a Cegueira (transposto para o cinema pelo nosso Fernando Meirelles com competência, apesar de aquém das expectativas). Em O Homem Duplicado, o diretor conseguiu compor um belo filme, com bom ritmo, cenas muito bem trabalhadas, uma fotografia diferente, com tons amarelados e também marrom para criar um clima bem peculiar e até mesmo denso, eu diria. Pena que apesar de visualmente bonito, o filme não alcança o grau de profundidade que a história poderia ter. Apesar de reações justificáveis, os personagens principais não agem da maneira mais lógica, e isso não chega a ser o problema do filme, até porque há todo um simbolismo e dubiedade que trazem um interesse a mais à história. Jake Gyllenhaal está excelente, e consegue compor dois personagens de maneira eficaz e até mesmo emocionante. Pena que o final do filme é abrupto e intrigante demais. As pessoas no cinema pareciam perplexas com o final do filme, e realmente não há como negar um grau de decepção com sua cena final. Fica aquela impressão de que poderia colocar todo o filme a perder, mas ao contrário de outros filmes com finais surpreendentes, esse desfecho não chega a comprometer todo o resto. Trata-se de um final pouco compreensível, com margem a várias interpretações, e essa ousadia pode fazer com que grande parte do público, acostumado com finais fáceis e óbvios, não gostem do filme. Eu, particularmente, daria outro desfecho à trama, mas trata-se de um filme que embora não seja uma obra prima, ou que faça refletir da maneira como poderia, eu gostei. Se for visto com olhos e mente mais abertos que de costume, há como apreciá-lo, mesmo que com um final a desejar.