Em episódios
por Francisco RussoAdaptar para o cinema um livro do porte de “O Continente” não é tarefa fácil. A começar pela enorme variedade de personagens, já que a história acompanha as várias gerações de uma mesma família ao longo de 150 anos – neste aspecto lembra outro clássico da literatura latino-americana, “Cem Anos de Solidão”. Se para o livro esta riqueza de personagens traz um frescor constante, com a renovação de histórias e a sensação de continuidade na genealogia dos Terra-Cambará, para o filme ela é um problema. Não pelos personagens em si, mas pela sensação episódica existente ao longo de todo o filme. Quando se começa a acostumar com os personagens e a trama que os cerca, ela chega ao fim para que um novo núcleo seja formado. Com isso, O Tempo e o Vento transmite a sensação de ser uma grande minissérie unificada para o cinema, algo ampliado pelo excessivo uso dos fade in/out na edição do longa-metragem.
O meio pelo qual o diretor Jayme Monjardim busca unificar todas estas histórias é através do amor entre Bibiana já idosa e o capitão Rodrigo, que a visita em meio à batalha final dos Terra-Cambará contra os Amaral. Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda são o elo central do filme, responsáveis por um imenso flashback que inclui as histórias de Ana Terra (Cléo Pires), Pedro Terra (Rafael Tombini), coronel Ricardo Amaral (José de Abreu) e tantos outros personagens. Cada uma destas subtramas têm aspectos interessantes e boas atuações, mas acabam prejudicadas justamente pelo pouco tempo em cena.
Há ainda outro aspecto do livro que dificulta uma adaptação cinematográfica: a grandiosidade da história como um todo, que é um breve retrato da formação do povo gaúcho. Neste ponto, Monjardim saiu-se bem. O Tempo e o Vento conta com uma fotografia belíssima que ressalta as paisagens e a luminosidade do sul do país, dando ao filme um visual impressionante. A trilha sonora amplia o ar épico ao apostar em músicas instrumentais que até lembram a usada na minissérie O Tempo e o Vento, exibida pela Rede Globo nos anos 1980. Há também um nítido cuidado na construção da cidade cenográfica de Santa Fé, onde boa parte da trama se desenvolve, permitindo que o espectador perceba onde e como foram gastos os R$ 13 milhões investidos no orçamento.
Por mais que O Tempo e o Vento seja inconstante, muito devido à esta característica episódica, trata-se de um filme bem feito e com atuações que justificam a ida ao cinema. A principal delas é de Fernanda Montenegro, que transmite uma ternura impressionante para o seu amado capitão Rodrigo. Thiago Lacerda é outro que se sai bem, com um sorriso estampado no rosto no melhor estilo Tarcísio Meira que combina perfeitamente com o perfil radiante e um tanto quanto despojado do capitão. Entre os personagens de menor destaque, merece ressalva o trabalho de Luiz Carlos Vasconcelos como Maneco Terra pelo ar de dignidade que confere ao personagem. Bom filme.