Comecei a ler o livro há algumas semanas atrás, mas não cheguei a concluí-lo, não exatamente por não considerar boa leitura, e sim por não ter tido muito tempo disponível para dedicar-me a terminá-lo. Decidi então assistir ao filme. Bem, posso dizer que houve uma escolha certeira do elenco, sem sombra de dúvida. Não imaginaria atores mais apropriados para os papeis de Mama Rosa e Papa Hans. Emily Watson tem sem dúvida a melhor interpretação do filme, como a carrancuda mãe substituta de Liesel. Por ser a grande e talentosa atriz que é, já comprovado em outros trabalhos, ela consegue como ninguém criar uma caracterização precisa, com a junção perfeita de dureza e afeto que a personagem pede. Já Geoffrey Rush, ator de primeira e já ganhador do Oscar, não fica muito atrás na sua personificação do simpático patriarca postiço, com amabilidade e ternura que são percebidas somente com o seu olhar. A bela e desconhecida Sophie Nélisse é talentosa e mostra vigor ao interpretar a protagonista com afinco, assim como o simpático Nico Liersh como seu vizinho e amigo. Enquanto isso, Ben Schnetzer é o único que parece completamente deslocado e não convence como Max, um personagem de destaque que precisava de um ator mais carismático e seguro. A parte técnica do filme é muito bonita, incluindo aí direção de arte, figurino e fotografia. A aspereza e a frieza mostradas na tela tornam o ar da película mais verossímil tendo em vista a amargura de várias situações mostradas. Felizmente uma das coisas mais interessantes do livro permaneceu no filme: a narração da história é feita por ninguém mais ninguém menos que a morte. Uma sacada genial do Markus Zusak, autor do best seller que deu origem ao filme, que mostra não haver ninguém mais apropriado e conveniente que a própria morte para narrar uma história que marca uma das maiores atrocidades que a humanidade já enfrentou. Na verdade, as falas da morte são as melhores partes do filme, principalmente no que se refere à emblemática cena final, que causa arrepio até nos mais insensíveis dos seres humanos. Várias pessoas que eu conheço e viram o filme disseram ter chorado nas cenas mais tristes. Não foi o meu caso. Acho que o filme apela sim para o sentimentalismo barato, e a frieza das imagens (talvez devido a tanta neve), não me causou essa comoção toda. Não querendo fazer comparações tolas, mas já as fazendo, acho que se compararmos ao desfecho de O Menino do Pijama Listrado, o efeito deste último foi bem mais devastador e cruel, causando, este sim, um nó na garganta. No caso de A Menina Que Roubava Livros, a impressão que fica é de se tratar de mais uma história cruel sobre a dureza dos reflexos da Segunda Guerra Mundial, com cenas belas e comoventes, mas que ainda assim soam ingênuas e sem novidades. É um filme previsível, que manda uma mensagem bonita e otimista da vida, assim como mostra uma realidade dura e desumana. Mas convenhamos, há muitos outros filmes que fizeram com bem menos momentos muito mais tocantes. Não sei se estou me tornando insensível com tudo que vemos por aí todos os dias, ou se a mesmice deste tipo de filme tem afetado meu senso de humanidade, mas o que me parece é que este filme nada mais é que um belo exemplar da pasteurização do elemento humano numa simplificada forma de comover pelos meios mais fáceis e óbvios. Nem sempre essa fórmula funciona, ou pelo menos não com todo mundo. Basta olhar o filme com um pouquinho mais de cuidado para perceber a fragilidade de um roteiro bem raso, com poucos momentos de real impacto, e sobra de melaço. Puro efeito de uma dosagem exagerada de açúcar e falta de uma pitada de ousadia.