Mais uma vez, Sofia Coppola continua com seus filmes que são um verdadeiro tratado sobre a monotonia. Com a diferença, desta vez, que aqui ela quer entender essa quebra de monotonia. E pra isso, é claro que o seu estilo se encaixaria muito bem: a quase ausência do ritmo nos permite entrar no universo das personagens e encontrar, nessa história tão fora dos padrões, algo verdadeiramente atraente.
Por mais que seja baseado em um artigo puramente jornalístico publicado na Vanity Fair, o filme toma certas liberdades com seus personagens (não me surpreende os reais envolvidos não terem gostado do filme) como a própria falta de profundidade. Eles são adolescentes fúteis e ponto. Isso torna-se um acerto, à medida que os próprios protagonistas viram um mistério para o espectador, algo bem parecido com o recurso já utilizado no primeiro trabalho da diretora, As Virgens Suicidas.
Entrementes, ao se esforçar pra transformar seus objetos de análise em verdadeiros sacos vazios, não tira a verdadeira essência adolescente de nenhum deles, de forma que sejam sempre passíveis de existirem no mundo real, por mais absurda e ficcional que essa história - que é incrivelmente verídica - seja.
Mas o filme não triunfaria sem o bom desempenho de seus alvos principais, Israel Broussard como Marc e Katie Chang interpretando Rebecca. Muito rapidamente, e com poucas linhas de diálogo, o roteiro deixa muito claro quem comanda e quem está sendo comandado nessa operação. Entre idas e vindas na casa de famosos e personagens entrando e saindo da narrativa, o ponto de vista do garoto que tinha baixa-estima, era novo na cidade e ansiava ser aceito em um grupo, nunca muda e é uma surpresa. Nunca estereotipado, sua sexualidade logo é revelada sem rodeios ou choques: ele pertenceria ao grupo de qualquer maneira. E o fascínio que Marc tem por Rebecca, e o contraponto feito por ele (sempre mais temeroso que a amiga) já presente desde um primeiro momento em que acompanha a garota em roubos dentro de carros na rua, é o cerne dramático do filme.
O único (e talvez grande, para alguns) problema do filme está na incessante ocorrência dos tais roubos, de modo que eles fiquem cada vez mais repetitivos. Mas diante da diretora em questão, eu jamais diria que isso tenha sido um erro. Por mais que isso representasse, há momentos em que Sofia faz escolhas maravilhosas na condução de suas câmeras, como por exemplo quando Marc e Rebecca invadem a casa de Audrina Patridge, e a câmera fica durante todo o tempo, de um local bem afastado - como se fosse um POV de alguém numa colina distante -, acompanhando os dois movimentando-se entre os cômodos; ou nos créditos iniciais, quando, ao som de "Crown on the Ground", a câmera torna-se um outro personagem da gangue, como se estivéssemos caminhando ao lado dos ladrões juvenis; ou até no close pontual no rosto de Emma Watson quando sua personagem está (e apenas nós, espectadores, sabemos o quanto) dissimulando para a própria imprensa; ou ainda quando, por longos minutos, acompanhamos Marc curtindo música, dançando e provando as coisas recém-roubadas do ponto de vista de... sua webcam.
Se ao grupo sobrava astúcia para conseguir entrar nessas casas para cometer os delitos mostrados no filme, não é de se surpreender, até pela pouca idade dos envolvidos, que faltava inteligência. Sua ruína esteve todo o tempo relacionada à forma com que se gabavam das coisas que faziam (pontualmente, numa cena Rebecca é tratada como celebridade numa festa por ter entrado na casa de Paris Hilton, numa clara inversão de papeis: a garota atingiu algo que muito admira), de forma que nem foi difícil para a polícia encontrar a localização desses jovens.
E sim, pode parecer uma história banal; mas uma história banal, contada de forma envolvente não se transforma em um filme banal. "The Suspects Wore Louboutins" talvez virasse um filme qualquer coisa nas mãos de outra pessoa, mas nas mãos de Sofia se tornou um filme cheio de quotes inteligentes, e representando um verdadeiro retrato de época (poucos filmes atuais representam tão bem a geração de adolescentes do mundo atual como esse), que talvez represente um ponto de transição em sua carreira. A ver o que vem por aí.