sta semana vi um crítico que nunca havia assistido Bob Esponja dizer que o novo filme, Bob Esponja – Um Herói Fora D’água, era doente e feito com ácido. Bom, não podemos dizer que ele está errado. A personagem sempre foi o limite da falta de sentido, e nunca buscou fugir disso. Dirigir barcos embaixo d’água, hambúrgueres de siri, caranguejos com baleias como filhas… Lógica nunca foi o forte da série, e seu primeiro filme havia seguido essa linha criativa sem extrapolar tanto. Algo que Um Herói Fora D’água não se importou em ignorar. E não deveria se importar mesmo, afinal, é o que seu público realmente gosta.
Este novo filme é a quebra de qualquer limite do desenho. Quando falam que ele foi criado a base de muita LSD, não é brincadeira. Algumas cenas são puras viagens sem se importar em ter lógica ou sentido no roteiro do filme, como uma na qual os heróis vão parar em outra dimensão, controlada por um golfinho, ao usar uma máquina do tempo.
Outra característica básica do desenho animado continua ali firmemente, a de aplicar o máximo de referências a cultura pop possíveis (inclusive parodiando a cultura). Isso já começa a partir da trama do filme, que transforma nossos amigos da Fenda do Biquíni em super heróis, os Vingadores do fundo do mar (praticamente uma cópia dos heróis). E, obviamente, nada disso é levado a sério. Com poderes que envolvem o controle de todos os sorvetes da Terra ou a habilidade de criar bolhas de sabão, não poderíamos esperar nada remotamente comedido. Ainda no campo das referências, uma forte influência do filme é a internet, essa linda! Alguns diálogos parecem ter sido retirados de redes sociais como twitter, tumblr ou youtube, tamanha a jovialidade e falta de foco. Cartazes de gatinhos com mensagens motivacionais, golfinhos usando capas, tudo que vemos ao entrar nessas redes sociais está aqui, incluindo um sensacional Epic Rap Battle que ocorre no final do filme, além das piadas com food trucks, algo que funciona muito bem com o público brasileiro.
Adicionando um pouco de tempero a isso, temos a nova proposta visual, com os personagens em 3D, algo que funcionou muito bem. Apesar de só vermos essa mudança quando eles vêm ao mundo real, depois da metade do filme (até então a animação era em 2D), ela nos deslumbra pela qualidade. A forma como as personagens ficaram e como elas interagem com o mundo real ficou ótima, tornando-se uma das melhores coisas do filme. Isso fica ainda melhor quando os vemos ganhando seus poderes e se transformando mais ainda, gerando espaço para inúmeras novas piadas e tiradas sensacionais. Infelizmente, é uma pena ver isso só ser aplicado praticamente no final do filme, demonstrando como não houve um real planejamento na sua construção, desperdiçando uma das melhores coisas do filme por causa do tempo.
Com tudo isso, o roteiro pouco importa, tanto para nós quanto para os produtores do filme. A história é leve, afinal ainda é um filme de criança, e passa batida por boa parte da trama, porque o que realmente vale a pena, o que o público realmente quer ver, são as loucuras das personagens. É o bom moço Bob Esponja tentando ser amigo do Plankton, e o Sirigueijo sendo muquirana, e assim vai. O que torna Bob Esponja especial para muita gente é a completa falta de escrúpulos e noção da história, e pelo menos nisso o filme acertou em cheio.
Então, não tenha dúvidas de que Bob Esponja – Um Herói Fora D’água seja doente e mergulhado em ácido. Se você não liga ou gosta disso, o filme será bom. Caso não goste, acho melhor conferir outro filme, senão ele será tão torturante para você quanto a risada do Bob Esponja é para o Plankton.