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    O Senhor do Labirinto
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    O Senhor do Labirinto

    Mais loucura, por favor

    por Bruno Carmelo

    No início deste filme, uma narração em off explica quem foi Arthur Bispo do Rosário (Flávio Bauraqui): artista, esquizofrênico, que criava as suas singulares obras acreditando receber ordens divinas. A apresentação é didática, enquanto a câmera passeia pelas obras do escultor. Este momento lembra um vídeo institucional, destinado à vulgarização (no sentido estrito do termo) de seu objeto de estudo.

    O problema é que as demais cenas nunca abandonam esta pedagogia da simplicidade – e talvez nada seja tão grave quanto tratar temas complexos como a arte, a criação e a esquizofrenia de maneira externa e impessoal. Os diretores Geraldo Motta Filho e Gisella de Mello dispunham de inúmeras possibilidades imagéticas ao analisar a construção psíquica de um homem genial e perturbado, mas preferiram se ater aos fatos: Bispo cria, fica preso em sua cela, e nada mais. O desenvolvimento da criação e da doença é tristemente linear, passando das primeiras às últimas criações, da saúde à doença, do anonimato à fama.

    Ao desejo de simplificação, acrescenta-se um roteiro fraquíssimo. Internado, Bispo recebe a ajuda de um guarda bondoso (Irandhir Santos), que acredita na validade de sua arte abruptamente, sem ter motivos para tal. Depois, o artista conta com o apoio de uma psicóloga (Maria Flor), que o defende por sua simples bondade inerente. Talvez em função do orçamento limitado, a trama quase nunca sai do hospital psiquiátrico onde o personagem está internado, restringindo a sua dinâmica às entradas e saídas de pessoas, às portas que se abrem e fecham. Quando a personagem de Maria Flor entra em cena, esquece-se durante longos momentos a existência do guarda interpretado por Irandhir Santos.

    A direção e os aspectos técnicos são precários. Os enquadramentos remetem à linguagem mínima do vocabulário cinematográfico, as locações são simples como pequenos cenários teatrais, enquanto a maquiagem destinada a envelhecer os atores é pavorosa e involuntariamente cômica. Este é um filme sobre “labirintos” que não aproveita os espaços, uma obra sobre psicologia desprovida de complexidade psicológica, e uma biografia que não consegue trazer às telas nada além do conhecimento básico sobre o biografado – nada que não se pudesse descobrir nas primeiras linhas do Wikipédia.

    O resultado é decepcionante, em especial por se tratar de uma história potencialmente densa, e de uma personalidade tão relevante para a cultura brasileira. O que teria atraído atores do nível de Bauraqui e Santos a um roteiro destes? Será que houve problemas na projeção e na finalização? Afinal, O Senhor do Labirinto já havia sido apresentado em festivais brasileiros há quatro anos, e apenas agora conseguiu chegar ao circuito comercial. São frequentes as obras nacionais que, diante de dificuldades estruturais, são concluídas de maneira pouco satisfatória, para ao menos terem a chance de serem vistas pelo público.

    Obviamente, não existe nenhum demérito em fazer um filme de baixíssimo orçamento. Algumas das produções brasileiras mais inventivas do ano dispunham de condições financeiras limitadíssimas (como Ela Volta na Quinta e Branco Sai Preto Fica), mas aproveitaram esta limitação para buscar uma linguagem radical, um registro inovador. Já O Senhor do Labirinto não procura a aplicação criativa de seus poucos recursos, preferindo emular o estilo básico das cinebiografias engessadas e escolares, que exigiriam uma produção muito maior. O resultado é uma oportunidade perdida de valorizar o trabalho de Arthur Bispo do Rosário.

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