O filme conta uma fascinante história real de duas mulheres que eram muito próximas no orfanato onde cresceram e que por desventuras da vida se separaram. Anos depois - quando começa o filme -, elas se encontram novamente. Uma delas se tornou uma freira e a outra, uma mulher perdida e carente por atenção. O diretor cria um clima de isolamento e tensão, mas ele não quer se envolver demais com suas personagens (isso poderia deixar sua visão imparcial), então ele sabe dar o distanciamento apropriado. O roteiro é o mais ponto alto, ele constrói as personagens e as situações de forma cuidadosa, todos as opiniões, todas as dúvidas são trabalhadas, nada fica em branco, ele aborda tudo, certas vezes até com um humor sórdido muito interessante, e, assim, o filme consegue estabelecer o clima de falsa paz. E quando o caos toma conta, os temas vão se tornando mais claros e desafiadores e, ao fim, a conclusão virá em tom marcante e, de certa forma, poético. O ótimo elenco é recheado de vários rostos femininos talentosos, mas o destaque, claro, vai para a dupla principal que dividiram o prêmio de melhor atriz no festival de Cannes. Pessoalmente, acho que Cristina Flutur se destaca um pouco mais. Ela consegue transparecer seus conflitos internos, sua urgência de partir e sua paixão de forma assustadora, Cosmina Stratan também é boa, ele transmite delicadeza e sofrimento de forma competente. Ainda acho que Marrion Cottillard, com seu trabalho incrivelmente humano, vulnerável e, com o passar do filme, luminoso em "Ferrugem e Osso", estar um pouco acima delas, mas reconheço o talento dessa dupla interessante de atrizes romenas.