Gosto muito do trabalho do Wagner Moura. Ele é um ator que se entrega em seus projetos e faz personagens bem diferentes uns dos outros. Passando desde o icônico Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, passando por outros personagens bem distintos como nos filmes A Busca, Cidade Baixa, Saneamento Básico, Elysium e O Homem do Futuro, só pra citar alguns, ele sempre demonstra um talento indiscutível. Aqui não é diferente. Seu personagem em Praia do Futuro é bem complexo e difícil. Trata-se de um homem de poucas palavras, que é um heroi que falha logo na primeira sequência do filme. Donato (Moura) é um salva-vidas que trabalha na praia que dá nome ao filme e pela primeira vez não consegue resgatar um homem que morre afogado. Daí, sua jornada é bastante dura, pois ele tem dificuldades de lidar com isso e com a realidade que o cerca. Ele se apaixona por um gringo alemão (Clemens Schick, também muito bem em cena), amigo do homem que não conseguiu salvar, e parte para Berlim viver uma nova vida longe da família, tentando esquecer todos os problemas deixados pra trás. Só que nem tudo são flores em Berlim, e tudo fica ainda mais tenso com a chegada de seu irmão mais novo (Jesuíta Barbosa), que vai atrás do irmão que abandonou a família procurando uma satisfação que nem mesmo Donato sabe explicar. Basicamente o filme é isso. Uma busca por respostas onde quase nada é respondido. O filme foca bastante na beleza plástica das imagens. As cenas na praia são lindas demais, assim como algumas cenas em Berlim, onde há uma drástica mudança no clima do filme, muito mais frio, não só no clima chuvoso do local, mas nos tons mais sombrios das ambientações, apesar de mostrar lugares belíssimos como uma aquário fantástico (que faz qualquer um ter vontade de conhecer). O filme soa meio estranho por ser bem parado, não há muita ação. Os personagens falam pouco e suas ações são mais expressivas do que suas palavras. Esse ritmo lento cansa um pouco, e algumas cenas parecem bastante desnecessárias. A impressão que dá é que algumas cenas ficam deslocadas, e embora os personagens se expressem pouco por meio da fala, por vezes nem mesmo suas ações dizem algo de significativo. Os personagens são introvertidos, com dificuldade de expressarem seus verdadeiros sentimentos, e nem sempre as imagens se fazem claras para transpor isso. Algumas coisas que acontecem no filme são simplesmente inexplicáveis como o surgimento de uma arma de brinquedo durante uma paquera do personagem de Jesuita, ou desnecessárias como a cena de nudez de Wagner Moura ao saborear uma maçã na cozinha (precisava ele estar pelado, gente?), e o final em aberto, que deixa mais perguntas que respostas na tela, fazem com que o filme provavelmente não seja muito apreciado pela grande massa. Ainda assim, o filme tem muitos bons momentos e tecnicamente é muitíssimo bem realizado, com uma elenco fantástico e irretocável. Um filme estranho, que não é para todo o público e gosto, mas que tem grandes qualidades artísticas, mesmo que por vezes maquiadas por uma pretensão exagerada de ser cult.