Mudando o mundo
por Lucas SalgadoEmpreendedor social. Você sabe o que fazem tais profissionais ou o significado real de suas atitudes? Se não, este documentário talvez possa lhe interessar. Trata-se de um filme abrangente e didático sobre este universo, podendo funcionar muito bem numa sala de aula ou num programa educativo da televisão. O problema é que não funciona bem como cinema, soando superficial e desinteressante.
A obra começa questionando a indiferença presente na pergunta "quem se importa?", que acaba relatando uma apatia padrão da sociedade. A premissa é interessante, mas a opção de investir numa narrativa descentralizada acaba prejudicando.
São ouvidas dezenas de pessoas que trabalham duro para fazer do mundo um lugar melhor, seja em seus campos de atuação, seja ao mudar toda a sua rotina. A ideia, como ressalta o narrador Rodrigo Santoro, é de que "todo mundo pode mudar o mundo".
Quem Se Importa conta com cenas em sete países (Brasil, Peru, Estados Unidos, Canadá, Tanzânia, Suíça e Alemanha) e traz uma série de entrevistas com profissionais de respeito, com destaque para o Nobel da Paz Muhammad Yunus, que inventou a primeira linha de microcrédito no mundo. Todos os outros profissionais ouvidos são importantes, então é compreensível que os realizadores tenham deixado os depoimentos no longa, mas é inegável que tudo acaba soando repetitivo e exagerado.
O filme tem 96 minutos de duração, o que é algo bem normal para filmes como este. Mas aqui acaba sendo muito tempo diante do ritmo lento. A falta de foco fica ainda mais evidente se considerarmos que a diretora Mara Mourão é a mesma de Doutores da Alegria, um belo relato de empreendedorismo social no campo da saúde. Quem se Importa é um documentário mais importante do que realmente interessante, nos deparamos com várias belas histórias, como a de um garoto de nove anos que levanta fundos para levar água para uma vila na África, mas nada é muito aprofundado.
O objetivo do longa, e a diretora trata de deixar isso claro, é criar uma espécie de ciclo virtuoso, em que pessoas verão projetos sociais e terão o interesse de se dedicar a este caminho. Como ideia, é ótimo. Mas como cinema é falho.