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    Drácula - A História Nunca Contada
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Drácula - A História Nunca Contada

    O beabá do vampiro

    por Francisco Russo

    Na Hollywood atual, às vezes vale mais ter uma marca em mãos do que propriamente uma grande história. É o caso da Universal Pictures e sua legião de monstros: Drácula, Frankenstein, lobisomem, todos são sua propriedade para usar e abusar da forma que desejar. Na década de 1990, o estúdio ressuscitou uma delas com sucesso: A Múmia, transformado em uma divertida aventura a la Indiana Jones. Desde então sempre povoou a ideia de trazer os demais de volta, em um grande revival cujo interesse maior era na bilheteria. Após o fracasso de O Lobisomem, veio então a vez de Drácula. Só que o conhecido vampiro surge em uma nova roupagem, antes mesmo de adquirir seus poderes.

    Drácula - A História Nunca Contada na verdade apresenta como Vlad se tornou o conde mundialmente conhecido. Trata-se de um típico filme de origem, que segue a fórmula aplicada em Malévola no sentido de justificar as atitudes de um vilão: por mais que tenha o hábito de empalar seus inimigos, Vlad fez tudo em nome da paz para seu povo e também por amor à esposa e o filho. Com isso, ele torna-se o mocinho da história e até dá para torcer por ele, muito graças à humanidade transmitida por Luke Evans. Ainda em relação ao elenco, Charles Dance merece destaque por sua conhecida voz soturna, bastante apropriada para o personagem, enquanto Sarah Gadon nada mais é do que a mocinha sem sal da história. Mero bibelô, que poderia ser substituída por outra atriz sem grande dificuldade.

    Outro gancho explorado pelo filme, também utilizado em Frankenstein - Entre Anjos e Demônios, é que o mundo da época exigia que "um monstro se tornasse um herói". Frase de efeito, é claro, mas que até é bem justificada dentro dos percalços vividos por Vlad em sua batalha contra os turcos. A transformação paulatina de Vlad em vampiro traz alguns elementos visuais interessantes, especialmente a revoada de morcegos e a visão de calor que passa a ter, claramente inspirada nos videogames.

    O grande problema deste Drácula é o didatismo com o qual a história é contada. A começar pela abertura estilizada, que narra a ligação de Vlad com os turcos desde a infância e seu passado nas guerras, passando ainda pelas desnecessárias explicações de absolutamente tudo que acontece - às vezes, com diálogos repetitivos. A fotografia acinzentada de John Schwartzman ajuda a manter o clima sombrio necessário à história, por mais que a impossibilidade de Vlad em aparecer sob a luz solar seja mal explicada. Outro ponto importante é que há um cuidado extremo na hora de apresentar sangue durante as batalhas - tudo de olho na classificação indicativa, que pode ser decisiva para o sucesso de um filme deste tipo. Há várias batalhas onde há pouco (ou simplesmente não há) uma gota de sangue sequer.

    De resto, este novo Drácula cumpre as pretensões de um filme de monstro e o coloca em embates variados contra os inimigos. Vale destacar o preciosismo estético de uma sequência em especial, quando a guerra de Vlad é observada a partir da lâmina de uma espada. Exagerado e até mesmo gratuito, mas algo diferente do usual que chama a atenção. Sem brilhar, nem mesmo nas cenas de batalha, Drácula - A História Nunca Contada acaba sendo uma aventura burocrática que serve mais para dar um novo reinício ao conhecido personagem. Com um roteiro mais ousado, um pouco mais de grana para caprichar no lado técnico e Luke Evans como protagonista, o futuro pode reservar algo melhor. Ainda mais apos o gancho explícito existente no final e o anunciado interesse da Universal em, agora sim, (re)criar um universo cinematográfico próprio envolvendo os monstros de seu acervo.

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