Para mim, o personagem Adèle (homônima da atriz) no caminhar de sua história tornou-se uma personagem trágica. Vinda de um meio social mais pobre do que a de seus novos amigos (estudantes, intelectuais / cobradores do que eles achavam o certo e não muito interessados de vê-la na vida de "professora de crianças" , quando para eles, ela poderia investir na Literatura, para eles mais interessante... Ela, pragmaticamente, conhecedora das limitações de se viver modestamente e recebendo em casa, os dogmas de procurar a segurança através de um emprego público, que lhe tiraria das incertezas de investir muitos anos e depois não ter o emprego para sustentar-se... Verifica-se que é uma personagem real, de muita personalidade, afinal ela convivia com aquelas pessoas (ditas mais intelectualizadas) mas não se deixava levar pelos parâmetros deles. Até aí vê-se um personagem comum, porém, SURGIU O INEVITÁVEL, já preconizado pelo roteiro do filme, quando o diretor nos mostra uma aula de Filosofia, em que a sua professora compara o inevitável e a tragédia... O filme vai mostrando, num crescendo, as armadilhas trazidas na sua vida e, ela, infelizmente, vacilou e não foi perdoada. Possivelmente, a sua companheira tivesse a razão e optou pelo não perdão, mesmo mostrando uma não raiva, talvez porque já tivesse, uma nova companheira, com a tranquilidade de ter encontardo certas compensações e estabilidade, critérios que a heroína do filme, talvez não fosse capaz de apresentar, por ter conduzido a sua história, tragicamente e por impulso ... O final do filme é marcante, pelo fato do diretor (autor) do filme não ter contemporizado com Adèle. Ele deixa a ideia que caminhando (vestida de azul) ELA viverá a sua futura vida, por sua livre iniciativa, porém, ELE evitou o que outros cineastas de menor calibre poderiam ter feito: um happy-end. Daí o bom do filme é que ele NÃO FEZ CONCESSÃO à sua heroína, e nem aos seus espectadores... Enfim, esse filme, é um daqueles exemplares típicos do Cinema de REFLEXÃO. Se bem, que bastante agradável, ao mostrar outros aspectos da vida cultural dos personagens, como passeatas, danças e músicas afro-francesas etc.
Concordo com você, naquelas quase 3 horas de filme, nada ficou gratuito. As cenas mais fortes são importantes, desperta, é claro, um certo voyerismo nos espectadores, mas quebra com um falso moralismo, afinal, para dar uma imagem dos relacionamentos discutidos o diretor não fica nas entrelinhas, ele mostra com um pouco de detalhes a atração forte entre as personagens e nisso ele o fez com competência, sem descartar os outros aspectos fundamentais do filme.
Obrigado.