Em 2011, um fato escandaloso envolvendo o então diretor do FMI, o francês Dominique Strauss-Khan, bombou nos noticiários internacionais. Tratava-se de uma acusação de tentativa de estupro feita por uma camareira de um luxuoso hotel de Nova York. Três anos depois, o polêmico Ferrara, responsável por obras premiadas como Vício Frenético e O Rei da Noite, aportou em Cannes com Bem-Vindo a New York, contando a estória ficcional de George Devereaux (Depardieu, arrasando!), um político viciado em sexo envolto num escândalo deste porte. Obviamente, o paralelo é direto ao caso de DSK porém disfarçado de “mera coincidência”, já que o executivo entrou imediatamente com um processo contra os produtores e diretor na tentativa de barrar a exibição do filme. Verdade ou mentira, a questão que interessa a nós cinéfilos é uma só: Welcome to New York é uma retomada do diretor ao seu corajoso estilo, depois de vários trabalhos irregulares e inexpressivos como 4:44 – O Fim do Mundo.
Depois de uma noite inteira de sexo grupal com prostitutas em um luxuoso hotel, o político francês George amanhece nu diante de uma humilde camareira desavisada que, então, ele tenta abusar sexualmente. Ao tentar sair do país, é preso no aeroporto e levado algemado para a delegacia, onde sua vida é exposta sem concessões. Ferrara coloca seu DSK fictício em uma via-crucis em que a vida e a morte se confundem com crime e castigo e faz um estudo sobre a conduta absolutamente imoral de um homem que até então julgava-se acima da lei. A atuação impecável de Depardieu, que se expõe sem pudores em cenas de sexo ousadas, é mais um dos grandes trunfos do longa e o coloca desde já no páreo para a disputa das principais premiações de melhor ator do ano como Globo de Ouro e Oscar (isso claro, se o mundo for justo!), além de Bisset, que faz sua elegante esposa, que é lançada num turbilhão de escândalos. Um dos grandes filmes de 2014, que certamente figurará em várias listas entre os melhores do ano.