Uma paixão não pode ser vista como um defeito. De fato, o diretor Carney é apaixonado por música e, depois do sucesso de público e crítica com seu Once – Apenas uma Vez, ele volta ao tema com este Mesmo Que Nada Dê Certo. O título brasileiro, embora levemente poético, parece não dizer muito sobre o filme, mas acredite, as 2 opções de títulos que o filme ganhou em inglês conseguem ser bem piores. No Brasil, as cópias distribuídas nos cinemas ainda mantêm o primeiro: “Can a Song Save a Life ?”, mas ele acabou sendo lançado com o título de “Begin Again” (Começar de Novo). Fraquinho, né ? Mesmo assim, o filme fez grande sucesso nos Estados Unidos, onde a trilha sonora chegou ao topo das paradas.
Embora o filme não fuja dos lugares-comuns dos dramas românticos (desilusão amorosa, separação, reconciliação, a volta por cima), o foco é mesmo a música. A paixão pela música que os músicos genuínos possuem – aqueles que ainda não venderam a alma para o sucesso e o marketing, empenhados em fazer boa música ao invés de ocupar-se com imagem e rentabilidade. Mesmo se Nada Der Certo é uma indisfarçável declaração de amor à música, o poder da música, sua capacidade de agregar as pessoas, motivá-las, inspirá-las. Há 2 cenas que resumem o discurso de Carney a favor da música. Numa delas, o amigo de Greta, Steve, desafia os presentes em uma festa a ficarem parados, sem dançar, ao ouvir uma deliciosa disco-music. Em outra, depondo até contra si mesmo como cineasta, Carney cria um diálogo onde diz que qualquer cena banal adquire uma outra dimensão quando embalada com uma boa música. Ele tem razão. Uma boa música é sempre um ótimo auxílio para um diretor. Grandes talentos do cinema, no entanto, até já produziram filmes sem usar música, mas isto é muito raro e difícil. No lado totalmente oposto está este Mesmo Se Nada Der Certo, onde a música é utilizada de forma a ir além de uma simples trilha sonora, um acompanhamento musical da narrativa. Muitas de suas cenas se constrõem a partir da música, onde ela chega quase a ser uma personagem – em uma cena específica a música é usada no lugar do que seria um diálogo. Isto não é novo para o diretor Carney. Se você viu Once – Apenas uma Vez sabe do que estou falando. Mas diferente do que muitos possam imaginar, ele não faz musicais, embora seus filmes sejam permeados de música.
A convocação para o elenco de Adam Levine e CeeLo Green não pode ser acusada de marketing, mas uma ferramenta genuína de usar músicos de verdade atuando. Os dois não comprometem o filme como atores, assim como Keira Knightley não compromete cantando. Até, porque, o filme dá boas cutucadas no estágio atual das gravadoras e produtoras, ameaçadas pela era digital de downloads de músicas. Mesmo Se Nada Der Certo é um filme sensível, leve, alto astral, inspirado, romântico e gostoso de se ver – assim como é gostoso de ouvir as músicas feitas para ele, que para o meu gosto pessoal até superam as usadas no seu filme anterior. Não será surpresa alguma uma indicação ao Oscar para “Lost Stars”.