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3,9
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10 Críticas do usuário

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4,5
Enviada em 5 de julho de 2014
“É fácil ser mártir. É fácil ser herói. Difícil é trabalhar todos os dias, sabendo que seu trabalho é insignificante.” Esta frase, dita pelo padre Julián (Ricardo Darín) ao padre Nicolás (Jérémie Renier) num momento de crise deste, pouco depois de chegar, como missionário, à miserável e violenta favela de Villa Virgen, periferia de Buenos Aires, expressa, na sua simplicidade e crueza, o dilema de todos aqueles que se envolveram ou se envolvem em lutas sociais pela América Latina afora. Dilema que se amplifica quando os protagonistas pertencem à Igreja Católica, que nesta região protagonizou a conhecida Teologia da Libertação, nos anos 1960-80, atualmente ofuscada por uma vertente espiritualista, fechada em si, desde os tempos do Cardeal Ratzinger (Papa Bento XVI).
O padre Julián, seu colega Nicolás e a assistente social Luciana (Martina Gusman) protagonizam “Elefante Branco” (2012), dirigido por Pablo Trapero. O título remete a uma grande obra abandonada, na capital argentina, na qual e em torno da qual vivem precariamente em torno de trinta mil pessoas, enfrentando um quotidiano de miséria e violência semelhante ao das favelas do Rio de Janeiro. O tráfico de drogas, com as conhecidas disputas de territórios pelos grupos rivais, envolvendo a população e conturbando o quotidiano dá a tônica dos acontecimentos, nos quais se mete, sem nenhuma originalidade, a polícia corrupta.
A omissão governamental – também velha conhecida – é uma peste encontradiça, na favela, do mesmo modo que as chuvas torrenciais que com frequência tudo alaga e encharca por ali. A ela se junta, para desespero dos padres engajados, o baixo envolvimento concreto do alto clero local – talvez conhecido do atual Papa Francisco, de quem se diz que atuou em situações parecidas como as da Villa Virgen.
Cenas de confronto entre manifestantes e policiais dão tensão ao filme, juntando-se às angustiantes situações vividas por jovens drogados que os padres tentam recuperar, sem sucesso, e tentam proteger – o que leva ao assassinato do Padre Julián numa cena-denúncia de alto impacto, em que pese a banalidade de situações semelhantes em favelas latino-americanas.
A sensibilidade e os restos de humanidade que perduram nas circunstâncias vividas pela massa miserável, pelos padres e pela assistente social (estes, claramente os agentes exógenos, diferentes, que se indignam e se colocam de corpo e alma na tarefa de ajudar a melhorar as condições de vida no local, no esteio de uma fé socialmente engajada) se destacam na figura do padre Nicolás, um belga de família rica que, depois de passar um ano em retiro espiritual, sem se comunicar, em absoluto silêncio, termina em Villa Virgen para auxiliar Julián, a quem conhecera antes, passando a respeitar e admirar. Torna-se inevitável seu envolvimento com Lucia, o que gera uma crise vocacional que coloca em risco sua condição de sucessor de Julián. Morte este, o padre belga volta à vida de monge, recluso (a figura da Igreja conservadora), mas termina voltando ao projeto em Villa Virgen (a Igreja progressista resistindo, Lucia atraindo ou as duas coisas?).
A história de Macaquinho (assim chamado por subir no telhado para fugir às surras paternas), um jovem drogado na luta por recuperação, sob amparo dos padres, é um dos fios condutores do enredo, culminando com sua captura dramática, em uma das cenas mais fortes do filme, por ter assassinado um policial (Cruz) infiltrado na favela e colocado a serviço dos padres (que nada sabiam de sua condição de espião).
Embora se trate de um drama-denúncia, o roteiro e a direção conseguem evadir-se dos julgamentos chapados, deixando fluir a vida dos personagens de um modo que as contradições e conflitos sejam sentidos e avaliados pelos expectadores sem indução ao maniqueísmo, típico deste tipo de empreendimento cinematográfico. O filme não resolve situações que a vida não solucionou na América Latina, porque por aqui os super heróis ainda não deram o ar de sua graça, e mesmo os mais fiéis seguidores de Jesus Cristo titubeiam, diante de tanta miséria, corrupção, descaso e abandono.
4,5
Enviada em 10 de fevereiro de 2013
Um filme duríssimo, roteiro bem interessante! Destaque para atuação de Darín, como sempre, impecável!
4,5
Enviada em 17 de agosto de 2015
Se tem uma coisa que se discute hoje nos grupos sobre cinema, com toda certeza é a relação entre o Cinema Argentino e Cinema Brasileiro. Cada uma com suas peculiaridades e destaques, o cinema argentino volta e meia entra na lista de indicações ao Oscar de Filme Estrangeiro.

Segredos dos seus olhos levou para casa a estatueta em 2010 nessa categoria e nesse ano, o filme Relatos Selvagens apresentou mais uma vez para o mundo a força do cinema argentino. Já no Brasil, Hoje eu quero voltar sozinho, quase emplacou a indicação no ano de 2014, mas o último que balançou as estatuetas foi Cidade de Deus do diretor Fernando Meirelles, de lá para cá, nada.

Há várias teorias sobre essa diferença, mas é a percepção de realidade, talvez, possa ser a mais gritante. Na Argentina, os diretores buscam um cinema com a cara da cultura local, com músicas com a qual a sociedade argentina se identifica e com histórias e problemas do povo argentino. No Brasil, essa identificação social e cultural se restringe as favelas do Rio. Claro que é importante abordar essa temática, mas existem mais problemas do que o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. A falta de tato sobre questões sociais brasileiras, talvez, seja a problemática do cinema nacional.

Para exemplificar melhor essa questão, até aqui debatida, o filme Elefante Branco é perfeito. É um filme que trata de duas questões: social e cultura. A primeira, inevitável de se perceber, a favela que virou uma antiga construção que seria o maior hospital da América Latina, por isso o nome, obras públicas sem utilidade.

Assim, questões sociais com pobreza, criminalização, marginalização, falta de participação do estado, opressão da polícia e por aí vai. E a outra, uma questão muito forte na Argentina e no Brasil também, que é a religião e sua ligação distante com essas questões sociais. O elo entre essas duas produzem uma problemática própria da sociedade coirmã e se cria um vínculo próximo para quem assiste.
O diretor, Pablo r, se destaca na forma de montagem do filme, com ângulos diferentes da favela inteira e com planos sequenciais logo no começo, e com a situação de cada personagem, dentro desse contesto muito fácil para estereótipos, Trapero, se destaca em trazer seus personagens com a simplicidade e singularidade de cada um. Os Padres não são supremos alicerces de devoção, são humanos, desanimam, enfraquece e desacreditam de suas ideologias e dogmas.

Então, partindo das primeiras linhas desse texto e compreendendo características salientadas naquela parte, Elefante Branco só reforça esses dois pontos. Existe uma identificação da problemática, e o povo argentino pode se ver naquele filme, pois seus problemas estão ali. Nem tudo no Brasil é favela.
4,0
Enviada em 3 de abril de 2013
Um elefante branco nada mais é do que algo que tem um valor muito alto, porém um custo de manutenção que não justifica a sua utilidade. É o tipo de expressão perfeita para dar nome ao filme homônimo dirigido e co-escrito pelo argentino Pablo Trapero, que encontra na favela chamada pelos personagens de Cidade Oculta (uma forma também muito apropriada de denominar uma comunidade que vive esquecida pelas autoridades civis, totalmente na margem da sociedade, que fica bastante alheia aos problemas que ela vivencia), o ponto de partida para uma trama que tem um viés social muito forte, porém um teor político mais contundente ainda.

A história idealizada por Alejandro Fadel, Martín Mauregui, Santiago Mitre e Pablo Trapero tem como personagens principais dois sacerdotes. O primeiro, Julián (o sempre competente Ricardo Darín), tomou para si a responsabilidade de desenvolver um trabalho social dentro da Cidade Oculta, ao mesmo tempo em que briga pelos direitos de cada um dos habitantes daquele local, enfrentando discussões com autoridades religiosas, políticas, policiais e criminosas. É muita responsabilidade e muito peso para somente uma pessoa carregar. É aí que entra a figura de Nicolás (Jérémie Renier), que Julián vai encontrar se dedicando a uma atividade de evangelização numa tribo de uma localidade remota próxima à Argentina – e tão problemática quanto a Cidade Oculta. Julián pretende fazer de Nicolás seu sucessor na favela.

Por trás de uma trama, como já mencionamos, de teor social e político, encontra-se também uma grande discussão moral, principalmente acerca do trabalho desempenhado pelos sacerdotes e pelos trabalhadores anônimos (como a assistente social interpretada por Martina Gusmán) na Cidade Oculta. A dedicação ao trabalho comunitário, ao compromisso e a lealdade com as questões mais profundas daquelas pessoas – que enfrentam situações que vão desde a falta de condições de moradia, passando pelo desemprego, culminando na briga de poder pelas diversas facções criminosas que ali estão – representam também o reforço de uma escolha diária de enorme sacrifício por parte daqueles que se envolvem nestes assuntos. Por meio da atuação excelente de Ricardo Darín, temos a constatação de que Julián já carregou tanto peso sozinho que está chegando ao seu limite físico e mental. Por meio da performance repleta de silêncios e reflexões do ator francês Jérémie Renier, temos o desenho perfeito de um homem dividido pelo conflito entre a sua vocação e os seus desejos mais íntimos.

Um dos elementos mais positivos de “Elefante Branco” é que o roteiro consegue equilibrar muito bem todos esses conflitos sem prejudicar o desenvolvimento de um em detrimento do outro. Além disso, a direção de Pablo Trapero consegue ser sólida o suficiente a ponto de construir um filme que prende a atenção do espectador do início ao fim. No final, “Elefante Branco” é um longa que manda muito bem o seu recado, principalmente por ter uma relevância no seu tema e por fazer uma crônica muito bem delineada de uma realidade que é muito bem conhecida daqueles que estão inseridos no chamado Terceiro Mundo subdesenvolvido (ou seria em desenvolvimento?). De uma certa maneira, o filme se torna uma obra emblemática, especialmente quando vemos o que está embutido em sua cena final: a mensagem de que a luta nunca cessa.
4,0
Enviada em 17 de janeiro de 2017
Novo filme do diretor Pablo Trapero (Abutres) traça na rotina das pessoas que ajudam uma favela a construir moradias dignas para seus habitantes um panorama fiel não apenas dos moradores — acostumados a viver às margens de uma sociedade que escolheu convenientemente ignorá-los em um terreno delimitado — mas da sociedade como um todo. E os que não são mostrados no filme obviamente são os que ignoram essa triste realidade.
4,5
Enviada em 27 de dezembro de 2023
Dura realidade do povo Argentino, muito parecido com o Brasil em grande parte do filme. Atuação do Darin foi incrível.
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