Em Elefante Branco o diretor Pablo Trapero nos coloca dentro de uma favela argentina para refletir sobre violência, igreja e política.
O filme narra o dia a dia de uma favela argentina onde há um prédio ainda inacabado por falta de continuidade de políticas governamentais e que por causa disso se tornou um elefante branco, ou seja, uma obra pública sem utilidade. Dentro da favela conhecemos o pároco da igreja Julián (Ricardo Darín) que tenta dar um suporte para a comunidade, o padre Nicolás (Jérémie Renier) que está ajudando-o e a assistente social Luciana (Martina Gusman). Eles tentam por meio de ajuda da congregação católica e do governo local dar continuidade a construção de casas populares para a comunidade carente. Conhecemos a rotina da favela e a dificuldade em que o padre Julian tem para desenvolver seu trabalho.
Trapero toca em assuntos interessantes. Ele nos mostra como as drogas acabam praticamente com a vida de jovens e que às vezes lutar contra é muito difícil. Mas o tema que é mais desenvolvido é o descaso tanto político quanto da igreja católica. Enquanto políticos estão mais preocupados em aparecerem em fotos para seu desenvolvimento na mídia, a Igreja que deveria ser mais atuante acaba em uma conivência e assim Julian e seus colaboradores tentam conviver com instituições que em vez de ter a prioridade de realizar um trabalho social querem mais é se auto-promover. Porém Nicolás tem um lado mais emocional e entende que como padre deve ser mais atuante na comunidade, se metendo no meio do fogo cruzado que a guerra entre facções está provocando. Julian fica dividido, entre deixar seu lado racional mais de lado ou não. Através do roteiro conseguimos captar no personagem de Julian suas convicções. Outro tema levantado é o lado vocacional que um padre tem que ter. Até que ponto a Igreja deve abrir mão de padres que poderiam realizar trabalhos importantes para a sociedade/igreja, por eles não conseguirem abrir mão de algo que a Igreja prega como convicção sobre a vocação de ser um padre.
Através de algumas imagens o diretor consegue nos passar algo sem palavras, mas isso poderia acontecer mais nesse filme. Acho esse lado pouco desenvolvido. Vejo o roteiro também com algumas falhas. As convicções de Julian são mudadas apenas para cumprir uma homenagem ao falecido padre Carlos Mujica. A atitude tomada por ele não condiz com o que foi pregado durante todo o filme e assim vejo isso realizado apenas por um capricho do roteiro. Outro ponto do roteiro que também é introduzido apenas por conta dessa homenagem é a questão levantada sobre a beatificação de Carlos Mujica. Sem mais nem menos isso é colocado no roteiro para podermos perceber que o roteiro quer homenagear Mujica. Daria para realizar essa homenagem de outra forma.
O tema é interessante, as questões levantadas geram debates, porém se tratando de um filme não podemos analisá-lo somente por questões levantadas e sim como um todo e dessa maneira o filme perde um pouco seu brilho.