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    A Música Segundo Tom Jobim
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    A Música Segundo Tom Jobim

    SEM PALAVRAS

    por Lucas Salgado

    Se você acompanha a cena dos documentários musicais no Brasil talvez já tenha notado um padrão. O formato "imagens de arquivo + depoimentos de personalidades do mundo da música" é adotado por quase 100% das produções, sendo que figuras como Nelson Motta, Caetano Veloso, Tom Zé e Gilberto Gil são presenças constantes em muitas destas. Seguindo a emblemática frase de Tom Jobim de que "só a linguagem musical basta", Nelson Pereira dos Santos resolveu radicalizar e colocar um basta nesta padronização. Em A Música Segundo Tom Jobim, o que importa é justamente a música do maestro soberano.

    Não é importante saber onde Jobim nasceu e foi criado ou com quantas mulheres teve um relacionamento sério, isso poderá ser visto em outro filme, A Luz do Tom. Aqui, não há a intenção de realizar uma cinebiografia clássica do músico e, até por isso, retrata, como nenhuma outra produção antes, o espírito e a personalidade dele.

    Quando as pessoas tentam descrever algo extraordinário, muitas vezes adotam frases feitas como "não há palavras para descrever isto". Pois bem, Pereira dos Santos seguiu a risca a ideia de que não existem palavras para tratar de Antônio Carlos Jobim. O filme apresenta um mosaico de apresentações de importantes nomes da música mundial, além de trazer momentos do próprio Tom cantando.

    Judy Garland, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Maysa, Elis Regina, Gal Costa, Nana Caymmi, Nara Leão, Chico Buarque e Paulinho da Viola são alguns dos inúmeros nomes presentes no longa. A seleção consegue mostrar bem a importância de Tom para a música mundial, trazendo apresentações em português, inglês, francês e alemão. Só deixa a desejar ao não dar o devido destaque a Vinicius de Moraes. O poeta, diplomata e capitão do mato, que já ganhou um documentário só seu (Vinícius), está presente através de fotos e de belos versos que Jobim escreveu em sua homenagem, mas faz falta cantando. Outra ausência notada é a de João Gilberto, mas esta é justificada por questões relativas a direitos autorais. O fato não compromete a narrativa, mas é impossível não achar estranho um documentário sobre Tom Jobim que traz Carlinhos Brown e Adriana Calcanhoto e não Vinícius e João Gilberto.

    Outro (pequeno) defeito surge da opção por mostrar a primeira apresentação de "Sabiá" no III Festival de Música Popular Brasileira, em 1968. A canção foi apresentada duas vezes no evento, sendo que a última recebeu sonoras vaias por ter derrotado "Pra não Dizer que não Falei das Flores", de Geraldo Vandré. A Música Segundo Tom Jobim preferiu mostrar a apresentação que não foi vaiada, indo contra a própria história da música e de Tom. Não dá para pensar que as pessoas não respeitariam mais o maestro por vê-lo sendo vaiado.

    As observações acima não devem impedir você de ir conferir o longa, que é um belo retrato do músico e de sua música. O mais interessante da obra é o fato de conseguir traçar um panorama sobre a vida de Tom sem contar com uma legenda ou explicação. Segue uma ordem cronológica, mas também não tem a necessidade de ser preciso, pois, afinal de contas, a música dele é atemporal.

    O longa traz algumas fotografias e imagens de arquivo, o que foi possível devido a participação da família de Tom Jobim. A neta Dora Jobim (codiretora) e o filho Paulo Jobim (direção musical) auxiliaram o veterano diretor na condução do projeto. O roteiro foi escrito por Nelson e pela cantora Miúcha, irmã de Chico Buarque.

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