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    Leite e Ferro
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Leite e Ferro

    DIREITOS E DEVERES

    por Roberto Cunha

    "A minha mãe me dava e eles me devolviam". Frases duras como essa são verdadeiras pérolas brutas de Leite e Ferro, sugestivo título deste documentário, que revela o diferente cotidiano de mulheres ligadas ao crime de variadas formas, mas com dois pontos em comum: estão presas e amamentando.

    Rodado dentro de um Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa (CAHMP-São Paulo), local destinado a criminosas em período de amamentação, o clima descontraído diante das câmeras resulta num quase reality show, porque uma vez cientes de que estão sendo filmadas, a vaidade aflora entre elas e a verdadeira dor fica, em alguns momentos, em segundo plano.

    Por essa razão, o choque das imagens não chega a ser tão nítido e sim mais subliminar. Descontados os rostos abatidos ou bocas desdentadas, dói mais olhar crianças inocentes no colo ou no seio de mães criminosas num ambiente prisional, pois é fácil imaginar um provável futuro para esses pequeninos seres do presente. Contudo, como o bom humor prevalece em quase tudo o que é dito, o discurso de todas é tragicômico ao relatar as experiências de overdose, de violência policial, a ausência do "macho" e a contaminação pelo HIV. A dor está lá e a zoação entre elas é grande.

    Entre os personagens reais, Daluana é veterana e a que mais se destaca, fazendo meio que papel de protagonista e fio condutor da "história". Ela conta sobre a origem de seu nome de guerra (o traficante Da Lua), ser "157 nato" (referência ao artigo do Código Penal), e surpreende ao revelar que traficava aos 10 anos e aos 14 teve seu primeiro filho.

    Hoje, aos 40 anos, diz sem o menor pudor que aplicava drogas nas veias, que inventou a cocaína colorida e que chegou a ser chamada de Tia Robin Hood, por roubar e distribuir. Mais articulada, ela prega a fé e também encabeça as reclamações e reinvidicações, percebendo-se claramente um relfexo das escolhas de vida da autora da frase que abre o texto, de puro abandono e desamparo.

    Assim, através destes depoimentos, você entrará em contato com a realidade de mulheres que cometeram crimes, estão pagando por eles e estão prestes (algumas delas) a ter a maior das sentenças determinada de maneira perpétua: a separação definitiva. Isso porque sem parentes para cuidar, as crianças acabam indo para lares adotivos e somem no mundo. E o horror dessa perda é assim sintetizado: "Porque eles vão embora, a gente fica".

    Já premiado em alguns festivais, o longa dirigido por Cláudia Priscilla (Olhe Pra Mim de Novo), o primeiro dela sozinha, não busca inovação em termos visuais ou auditivos. Pelo contrário, é simples ao extremo, mas isso não compromete de maneira alguma o resultado final, que faz refletir sobre essas mães. que continuarão presas e seus filhos que serão "soltos" ... no mundo.

    O único pecado, porém, foi sua pegada um tanto quanto tendenciosa ao colocar as mães somente como vítimas, reclamando de seus direitos, mas esquecendo os seus deveres, "abandonando" assim a sociedade que ficou sem voz.

    Assista o trailer e saiba mais sobre o filme visitando Leite e Ferro.

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