Por mais que Marcelo Gomes tente filmar sobre o vazio que habita o ser-humano, inclusive fazendo uma ótima relação ao fazer de sua protagonista uma psiquiatra, o filme acaba caindo na própria armadilha de falta de conteúdo. É vazio, Verônica é desinteressante e o filme gira, gira, e não diz absolutamente nada.
Os problemas começam e terminam quando o filme se baseia completamente em cima de uma personagem que tem alguns dilemas um tanto quanto inexplicáveis. Ainda que o drama de com o pai (interpretado com excelência pelo W. J. Solha) façam jus à melancolia de Verônica, todo o resto a sua volta passa longe de profundidade. Verônica, é, de certa forma, até fútil. Uma personagem de difícil identificação pra um filme que, notoriamente, pede a todo o momento isso.
Como para se autossabotar, como se precisasse ainda mais disso, lá pelas tantas o filme apresenta uma personagem que passa rapidamente pela história para se consultar com Verônica. Ela relata seu drama, de forma convincente e verdadeiramente tocante: tem tudo, e ao mesmo tempo sente um profundo vazio consigo mesma, está entregue à depressão e "parece que dorme, dorme, mas o sono não acaba". O roteiro a coloca ali para que Verônica criasse uma identificação com ela, e a protagonista realmente mostra entender o sofrimento da mulher que estava a sua frente. Mas o problema está aí. Essa identificação soa extremamente falsa. Forçada mesmo. E é complicadíssimo quando, naquele momento, o desejo de quem está do lado de cá da tela seja de que a câmera abandonasse Verônica e passasse a acompanhar aquela coadjuvante, que parece tão mais irresistível.
Era Uma Vez Eu, Verônica só não é um completo fiasco porque seus atores dão um show. Hermila Guedes não está em seu melhor momento, mas continua fabulosa, tentando dar consistência a uma personagem bastante rasa. Todas as pequenas participações de personagens inseridos ao longo da narrativa como pacientes da recém-formada médica também são bem trabalhados, de modo que as cenas dos atendimentos clínicos são as melhores de se assistir aqui. O pseudo-romance com Gustavo também é outro ponto tratado de forma bastante negligenciada nesse roteiro, o que também expõe a superficialidade de sua protagonista. E não vou nem entrar no mérito da apelação... Eu esperava gostar bastante do filme antes de assisti-lo, mas quando subiram os créditos a única coisa que eu pensei foi: ainda bem que não gastei dinheiro em um ingresso de cinema com esse filme no ano passado.