Numa narrativa lenta, contemplativa e poética sobre a infância, e o mais importante, a perda gradativa dela, Eduardo Nunes coloca-se em tela como uma verdadeira cria do diretor húngaro Béla Tarr ao trazer imagens com uma profundidade notável, escolhas fotográficas cheias de referências e enquadramentos secos, ásperos, pra contar essa história repleta de metáforas, num formato de tela completamente incomum, mas que contribui gradativamente à narrativa uma vez que acompanhamos a forma como aqueles personagens lidam com seu tempo e espaço. O fato é que o diretor sabe muito bem o que quer ao criar um Universo próprio pra situar sua protagonista, não esquecendo nunca de colocar a própria cultura de seu país em destaque, e assim, amenizar o conflito interior vivido por Clarice e sua reflexão. Existe a menina/mulher, a forma como ela enxerga o mundo ao redor, e existem nós. Sudoeste talvez exemplifique, de forma bastante surreal, as situações pra mostrar que a vida é o próprio algoz da criança, e Clarice como vitima do destino seja apenas um caso entre tantos. E apesar das atuações das crianças, e alguns diálogos deslocados, o filme triunfa ao não tratar do assunto com frieza, crueza ou rispidez. Pelo contrário, chega parecer até bonito.