Embora tenha se levantado uma torcida enorme, com ares de Copa do Mundo, não tinha como O Menino e o Mundo, belíssima animação de Alê Abreu, levar o Oscar de melhor animação. Não, não tinha como. Seria ironia demais se isso acontecesse. O desenho é uma reação contra a indústria. E nada mais industrial que o Oscar e os desenhos da Disney-Pixar.
O grande trunfo de Abreu foi ter nadado contra a maré com coragem. Ao contrário das animações realistas da gigante mundial, Alê preferiu os rabiscos bidimensionais, como se fossem traços rápidos em um caderno escolar. Ao contrário da narrativa rápida e louca, ainda que "quadradinha" e convencional, ele optou pela suavidade, pela alegoria, pelo onírico. E, ao contrário de repisar nas teclas surradas de valores como amizade e família, ele optou em pisar em solo político. E longe dos finais açucarados, otimistas e demagógicos das grandes animações, Alê é triste, amargo, crítico e desencantado, pingando realidade nua e crua nas tintas surreais do mundo do menino.
O Menino e o Mundo é uma incrível história feita sobretudo com traços simples e imediatistas, utilizando recursos praticamente escolares, como giz de cera, lápis de cor e colagens. Os diálogos são praticamente ausentes: são apenas grunhidos ininteligíveis, sugerindo um idioma imaginário.
As aventuras, sejam elas reais ou imaginárias, do menino em busca do pai retratam a eterna perda da / busca pela infância. Tratando temas duros como repressão policial, violência, pobreza, exclusão social, poluição, exploração, abuso de poder... e o poder redentor da Arte, Alê nos brinda com uma pequena grande obra-prima, íntima e pessoal, simples e tão cheia de significados.
De se ver e rever.