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    Uma Longa Viagem
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Uma Longa Viagem

    Real e profundo

    por Roberto Cunha

    Documentários têm a difícil missão de conquistar um público, muitas vezes, mal acostumado ao mundo da ficção. Assim, é comum que alguns realizadores tentem dar uma sacudida na estrutura narrativa para atrair o espectador. Os que tiveram a oportunidade de assistir Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei ou Cidadão Boilesen, ambos nacionais, sabem como isso é possível.

    A cineasta Lucia Murat (Quase Dois Irmãos) tem experiência suficiente para arriscar e fez isso em Uma Longa Viagem. O resultado é um filme extremamente visceral, onde parte das entranhas de uma família (a dela) é exposta de maneira bastante contundente. Revelando seu passado ligado nas questões políticas do país e do mundo, Murat revela a dor de uma mulher que foi presa durante dois anos e meio, torturada, sem esconder sua admiração por George Jackson, líder do partido revolucionário Panteras Negras.

    Traduzindo o resultado de 10 anos de cartas enviadas por Heitor, o outro irmão exilado (por eles) no exterior, o espectador vai conhecer um Brasil, mas também Londres, Holanda, Bali, Grécia, Índia, Afeganistão, Nova Zelândia, São Fancisco, Austrália, Bangock etc. E o que impressiona em sua trajetória era a maneira como ele realizava essas viagens, no mais duplo dos sentidos. Totalmente ligado ao mundo das drogas, ele fumou, cheirou, tomou e até traficou. O elo com a realidade, de fato, parecia ser as cartas onde ele contava de maneira bem humorada suas experiências longe de todos.

    Narrado pela diretora (e atriz dessa vida contada) e também encenado por Caio Blat em sequências sintonizadas com imagens projetadas nos mais diversos cenários, o ponto alto acaba sendo as intervenções do próprio Heitor. Em depoimentos inspiradíssimos, sua naturalidade acaba sendo a mola propulsora de um drama pesado, que se torna cômico pelo total despudor de quem comenta as próprias insanidades: "Eu nunca alucinei". O mais importante, porém, é que não se ri de Heitor, mas sim com ele.

    Merecidamente premiado no Festival de Gramado e também Paulínia, o doc tem doses musicais de hits do passado, de Janis Joplin a Jefferson Airplane, o que torna essa catarse dos irmãos que queriam mudar o mundo em algo forte e que merece ser visto sem preconceito. Uma história de vida turbinada por princípios e com um só fim.

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