DEPENDE DO QUE VOCÊ PROCURA
por Roberto CunhaUma pergunta dá nome ao longa e o texto se abre com uma também: Onde está o erro em um filme leve demais? Depende do que se pretende com essa proposta e de como ela será percebida.
O terceiro filme de Carlos Alberto Ricelli (Signo da Cidade) revela-se frágil logo no começo ao usar o recurso fácil de apresentar seus personagens através da narração. Mesmo que isso não represente um crime tão grave para você, o problema é que o clichê não para por aí.
Teodora (Bruna Lombardi) é uma apresentadora de programa culinário casada com um comentarista (Bruno Garcia) de programa de futebol. Quando ela descobre uma traição moderna dele (via skype), sai de casa para encarar uma viagem de autoconhecimento, fazendo o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.
Na companhia de dois amigos, a aventureira descobre que “peregrinar é um ato de fé”, mas o que dizer de alguém que pretende andar dias a fio calçando botas estilosas e sapatos de salto? Se achou pouco, saiba que tem muito mais ao longo da história e se a ideia era brincar com o absurdo, essa repetição cansa e fica difícil se deixar levar pela trama. Algumas cenas, como a que acontece dentro de um tonel de uvas, ultrapassam o limite do ridículo.
Embora o talento de Bruna e Bruno (não é dupla sertaneja) seja inegável, a caricatura dos personagens é limitadora. Os diálogos não ajudam, apelam para frases de efeito, tentam plantar bordões ou usam trocadilhos (abençoada x bem suada) tristes. O uso excessivo da histeria feminina para fazer graça também não funciona. Para piorar, o roteiro insere situações cômicas mais sujas, desequilíbrando a tal leveza com a insistência em fazer piada (?) com o orifício anal. E o surgimento de um personagem infantil, "caindo do céu", azeda de vez a receita.
Ainda assim, mesmo que despido de qualquer iniciativa na busca por soluções menos óbvias, nota-se alguns cuidados com a produção. A trilha sonora é legal, existe uma simpática animação com estilo meio retrô e serão vistas belas sequências na Espanha. De lá, inclusive, rola até um flerte com o colorido de Pedro Almodóvar em algumas cenas.
Portanto, complementando a resposta lá do início, não existe erro em produzir um filme leve, mas a satisfação do espectador ao entrar na sala escura para assistí-lo vai depender única e exclusivamente do que ele procura. E aqui, se a felicidade está em piadinhas machistas e rasinhas, o prato está servido. Caso contrário, o cardápio não prevê outra opção.
Assista o trailer, veja curiosidades e fotos em Onde está a Felicidade?.