Os 3: Crítica AdoroCinema

O limite entre realidade e ficção sempre foi difícil de ser definido, ainda mais quando sentimentos estão em jogo. Mentiras e truques muitas vezes são usados para aparentar algo que, na verdade, não é. A questão voltou à tona graças à ascensão dos reality shows, cativeiros humanos que buscam captar algo de verdadeiro na essência dos competidores. Os 3 passa por esta abordagem, mas vai mais fundo ao mesclar a necessidade de parecer interessante para o público com sentimentos sinceros, questionados devido à existência de vários personagens nas mesmas pessoas.

Tudo começa com o encontro ocasional, na porta do banheiro, de Cazé, Camila e Rafael. Liberais, logo eles se tornam amigos e resolvem morar juntos em um galpão, durante a faculdade. Entretanto, há uma regra básica: não pode acontecer nada entre eles, em nome da boa convivência. Ao longo dos quatro anos de curso eles se tornam tão próximos que são considerados como um só, os 3. É claro que tamanha proximidade desperta outros sentimentos, além do afeto e companheirismo. O ciúme é um deles, o que faz com que Rafael resolva desfazer o trio. Na hora H vem a salvação: uma proposta inusitada para que estrelem um reality show em sua própria casa, baseado em um trabalho apresentado pelo trio na faculdade. É a derradeira chance para que permaneçam, ao menos por mais algum tempo, juntos. Eles topam.

Os 3 tem na verdade duas histórias que, pouco a pouco, se misturam. A primeira é a desta amizade que se torna algo mais, repleta de sensualidade latente e forte tesão reprimido, que gera a expectativa de um triângulo amoroso que apenas se concretiza quando a segunda vem à tona. É quando a imaginação ganha força, através da criação de personagens para o reality show, que as travas, morais e físicas, caem por terra. Vem então a dúvida: o que é verdade nesta realidade? A condução desta questão é o grande mérito do filme, trazendo à tona temas atualíssimos envolvendo o que as pessoas querem ver na TV – ou no computador, no caso – e ainda como se portar quando há a consciência de que está sendo vigiado. Ao mesmo tempo, as velhas questões sobre como agir quando há a nítida percepção de que algo mais está brotando também vêm à tona.

Os 3 é um bom filme, com um roteiro esperto que concilia o universo jovem e liberal dos dias atuais com a questão da imagem e o que ela significa. Sensual, divertido e por vezes surpreendente, trata-se de uma espécie de Dona Flor e Seus Dois Maridos formado não apenas pelos 3, mas também graças à vontade da audiência. O que levanta ainda questionamentos sobre o que interessa ao público e até que ponto uma atração deve se moldar a ele. Destaque também para a ótima trilha sonora e as boas atuações do trio Juliana Schalch, Victor Mendes e Gabriel Godoy, que consegue transmitir o clima de companheirismo e intimidade necessários aos 3.