Vigorosas interpretações de personagens de carne e osso, que podemos encontrar na vida real: a mãe abnegada, o pai politizado, o filho pelego, a namorada atuante. Desse caldeirão de conflitos, o diretor Leon Hirszman extrai o melhor e nos faz sentir orgulho do cinema brasileiro. Um dos melhores filmes sobre o assunto, de todos os tempos.
Em 22 de fevereiro de 1958 estreava a primeira montagem de Eles não usam black-tie no Teatro de Arena, e é surpreendente como, ao chegar ao cinema 23 anos depois, a história não tenha envelhecido em nada. Autor do texto, Gianfrancesco Guarnieri dava a sua chancela à adaptação do cinema-novista Leon Hirszman ao viver o líder operário Otávio, pai de metalúrgico Tião (Carlos Alberto Riccelli). Na montagem original, Guarnieri encarnara o próprio Tião, o outro protagonista da trama. No início da década de 80, época de grande turbulência social no ABC paulista, Hirszman enxergou nas greves de metalúrgicos - de onde despontara como líder sindical o futuro presidente Lula - o contexto perfeito para reencenar o texto engajado, mas atento às fraquezas do ser humano. Seu Otávio, um homem de tradição na militância política, entra em rota de colisão com o filho, cujo pragmatismo diante da possibilidade de perda do emprego o leva à condição de fura-greve. Embora claramente alinhado com o pensamento político de Otávio, o filme procura não vilanizar Tião, mesmo pintando-o como fraco de espírito. Romana, sua mãe, na interpretação internacionalmente aclamada de Fernanda Montenegro, é o ponto de equilíbrio da trama, e o seu olhar compassivo aponta para o real vilão: a tragédia social brasileira. Em 1990 três anos depois de o diretor Leon Hirszman falecer em decorrência da Aids, chegaria tardiamente aos cinemas “ABC da greve”, seu olhar documental sobre as agitações sindicais de 1979, cenário deste filme. Fundamental para um maior entendimento histórico do país.Musicado por Adoniran Barbosa, Chico Buarque e Gianfrancesco. Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza.
Em cena dois dos maiores expoentes da teledramaturgia nacional. Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri interpretam os chefes de uma humilde família de operários da São Paulo dos abusos do regime militar e dos amores juvenis.
O roteiro do também diretor Leon Hirszman é simples, e a juventude aliada ao talento de Carlos Alberto Riccelli e Bete Mendes nos encantam desde o início.
A crítica à política, mediante a ditadura vigente na época, é perceptível. Vale lembrar que após a sua estreia, o filme sofreu interferências da censura, que chegou a exigir cortes de cenas e a exibição do filme em horário previamente estipulado.
É uma boa pedida aos amantes da boa dramaticidade.
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