Tipicamente Americano
por Francisco RussoO cinema é também reflexo da identidade de um país. Através dele é possível conhecer melhor peculiaridades próprias, que vão desde cidades e paisagens até o estilo de vida da população local. O Homem do Futuro, apesar de ser um filme brasileiro, pouco explora esta característica. Com exceção de algumas músicas da trilha sonora, onde a sempre clássica Legião Urbana marca presença, o que se vê é um típico filme americano produzido fora de Hollywood, com suas virtudes e defeitos.
A história é focada em Zero (Wagner Moura), um cientista amargurado pela humilhação sofrida pelo amor de sua vida, Helena (Alinne Moraes), quando ainda estavam na faculdade. Acidentalmente ele cria uma máquina do tempo e vai parar em 22 de novembro de 1991, data exata em que sua vida começou a ruir. Ele aproveita a oportunidade para encontrar sua versão mais jovem, de forma a ajudá-la a se tornar uma pessoa bem sucedida, e com Helena, no futuro.
Pensou em De Volta para o Futuro? Não foi à toa, já que algo parecido acontece com Marty McFly em suas corridas pelo tempo a bordo do famoso Delorean. Não é a única semelhança. A primeira versão de Zero tem um ar de cientista maluco que lembra o Doc Brown de Christopher Lloyd, só que mais raivoso. O longa dirigido por Robert Zemeckis nitidamente serviu como fonte de inspiração, também por ter se tornado o filme padrão quando se pensa em viagens no tempo. Nada mais natural, o cinema está repleto de citações e homenagens, intencionais ou não. A questão maior passa pela estrutura de O Homem do Futuro como cinema.
Tudo é muito bem produzido, desde os competentes efeitos especiais até o grandioso cenário construído para o laboratório da máquina do tempo. Há um apuro no figurino, de forma a ambientar os personagens em 1991 e também no futuro alternativo desenhado pelas mudanças provocadas por Zero. A trilha sonora é pop, com destaque para “It’s the End of the World as We Know It (And I Feel Fine...)”, do R.E.M. Só que, por outro lado, o roteiro segue a estrutura esquemática das comédias americanas, com situações mal explicadas abandonadas no decorrer da trama. O uso da física como meio de provar a existência do amor dá uma falsa sensação de profundidade ao roteiro, apesar da mensagem final bacana sobre enfrentar as dificuldades da vida. Os furos presentes quando Zero retorna ao presente incomodam.
O que segura O Homem do Futuro é seu casal protagonista. Wagner Moura por vezes exagera intencionalmente nos trejeitos de forma que o espectador consiga identificar, de imediato, qual versão de Zero está em cena naquele momento. Um belo trabalho acompanhado por Alinne Moraes, que, se não brilha tão intensamente, compõe bem o misto de beleza e espanto exigido de sua personagem. Por outro lado, há também a péssima atuação de Fernando Ceylão, sempre fora do tom em relação aos seus companheiros de cena.
O Homem do Futuro até diverte, com algumas piadas bem sacadas, mas deixa sempre a sensação de ser uma cópia do que é feito lá fora. Um caminho válido, até mesmo para atingir uma parcela do público que venera o que vem de Hollywood, mas que o descaracteriza como cinema brasileiro, no sentido de apresentar características próprias do país. Não será surpresa se, em breve, uma refilmagem americana for anunciada, diante do caráter universal da história. A adaptação não seria tão difícil assim.