Para pequenos guerreiros urbanos
por Roberto CunhaAnimados com o sucesso de Tainá - Uma Aventura na Amazônia (2001) e Tainá 2 - A Aventura Continua (2004), premiados no exterior e que fizeram - juntos - bem mais que um milhão de espectadores no Brasil, o produtor Pedro Rovai e a roteirista Cláudia Levay apresentam Tainá - A Origem. O propósito é mostrar para a molecada como tudo começou na vida da indiazinha, desde o significado do nome, passando pelo fato de ter sido criada pelo vô Tigê (Gracindo Jr.) até o porquê de seus grandes poderes de guerreira das selvas.
Para dar um temperinho extra e botar os pequeninos para pensar (um pouquinho) nos perigos da destruição da natureza, pinta um vilão (Guilherme Berenguer) devidamente acompanhado de seus asseclas, dispostos a encontrar e destruir a Grande Árvore Sagrada. Enquanto eles pressionam um sábio vovô (Nuno Leal Maia) para revelar o paradeiro do mapa que os levará até lá, a netinha dele acaba escapando e encontra a pequena Tainá. Ela, por sua vez, enfrenta o preconceito da tribo por ser menina e ter atrapalhado o ritual de escolha do guerreiro que protegerá a terra do espírito do mal. Achou confuso? Pode até ser, mas a edição atropela eventuais mancadas de roteiro, simplificando os pormenores de modo a agilizar a trama. Dirigido por Rosane Svartman, que já mostrou talento para dialogar com o universo jovem em filmes como Como Ser Solteiro (1998) e Desenrola (2011), esse Tainá bebe na eterna fonte das produções que usam e abusam da fantasia, com bichos interagindo com os seres humanos, mostrando comportamento quase humano, e por aí vai.
Rodado na espetacular Amazônia brasileira, sobrarão imagens belíssimas acompanhadas de macacos trapalhões, araras dançantes, papagaios super falantes e tartarugas mais rápidas que jet-ski, entre outras licenças criativas. Só isso explica Tainá pilotar balão como ninguém, o indiozinho Gobi usar laptop - e internet - no meio da mata (?!) e macaco usando celular ser motivo de piada. Um humor assumidamente infantil que vai incomodar os ranzinzas de plantão, turma que esquece como é ser criança e que riu adoidado de situações também toscas, mostradas em Os Três Patetas, O Gordo e o Magro, Abbot e Costello e, claro, Os Trapalhões.
No elenco, apesar da (sempre) boa participação dos veteranos citados, o destaque vai para a adorável, muito fofa e estreante Wiranu Tembé como protagonista. De resto, os vilões pra lá de estereotipados (tudo a ver) cumprem seu papel, com Berenguer mostrando dentes, olhos com efeitos especiais "à la Crepúsculo" e arraste um machado luminoso em plena era das motosseras. Como se vê, não se trata de uma produção voltada para quem se apega a detalhes. Isso explica o não mergulhar, mas deslizar numa fina (e superficial) camada de situações que convença o público-alvo de estar diante de uma aventura com momentos divertidos. É isso que eles querem e é isso que encontram, mesmo que com "galhos" mal amarrados para os grandinhos. E a comprovação de foco bem definido desde o começo vem no final, com a canção do folclore recifense "Toque Patoque", cantada e dançada por toda a turminha no melhor estilo videokê, com letras e bolinhas na tela grande. Precisa dizer mais? Com a palavra, os pequenos guerreiros urbanos.