QUE SEJA ETERNO ENQUANTO DURE
por Roberto CunhaQuando a história é fraca, mas o roteiro é bom, a experiência mostra que, muitas vezes, o filme se salva. Mas quando a história é (até) boa, mas o roteiro não ajuda, é um deus nos acuda. Quanto Dura o Amor? parece ter errado no título ao inserir um ponto de interrogação porque o filme não fala propriamente do amor e sim de relacionamentos frágeis, mal construídos e da busca pela felicidade.
Na história, Marina (Sílvia Lourenço) é uma jovem atriz que deixa o namorado no interior e vai tentar a sorte grande em um teste de elenco na cidade maior ainda. Em São Paulo, ela "divide" o apartamento com a advogada Suzana (Maria Clara Spinelli) e num passe de mágica convida o vizinho Jay (Fábio Herford), um escritor, para sair na noite. Num barzinho, ela conhece a cantora Justine (Danni Carlos), seu namorado Hugo (Paulo Vilhena) e assim a trama começa a ganhar seus primeiros contornos. É quando surgem também os primeiros sintomas. Sob o pretexto de explorar temas polêmicos como o lesbianismo, transexualismo e prostituição, o roteiro não se aprofunda em nada e se afoga no raso das interpretações. Com diálogos fracos, o tal amor questionado no título é de uma efemeridade ímpar. Apaixona-se num olhar, beija-se no outro e a transa é num piscar de olhos. Tudo rápido demais. E se algum apressado achar que trata-se de um filme voltado para uma parcela gay onde esta rapidez é comum, vale lembrar que o público que vai ao cinema é heterogêneo e pode questionar este "excesso de velocidade".
Mas o fato é que a teia da trama não tem visgo. Embora se tenha tentado, de certa forma, amarrar as histórias para provocar alguma interseção entre elas, a coisa não acontece. Porque a maior fragilidade está na superficialidade dos personagens para tratar de temas delicados e a sensação nítida é de que faltou mais densidade para conferir peso ao drama. Com pérolas como “Seu peito não tem silicones?”, “Será que existem separações felizes?”, “Teatro não dá dinheiro”, um inconsistente “Eu quero ficar com você” e um título de livro “Cicatrizes do Passado”, faltou texto para ajudar nas interpretações de Lourenço, Spinelli e Danny Carlos, que como atriz, se saiu bem como cantora. Vilhena, estereotipado, meio que repete o fraco papel que fez em O Magnata. Entre as curiosidades, o cineasta Hector Babenco e a atriz Barbara Paz aparecem como eles mesmos numa ponta.
A trilha sonora conta com a canção “High & Dry” (Radiohead) na abertura e segue fácil, calcada, principalmente, na participação de uma “cantriz” na trama. As cenas sensuais são bem produzidas, a fotografia é legal e a abertura é de bom gosto. Quanto Dura o Amor? está longe de ser um filme mal feito. Dura pouco mais de uma hora e quanto ao amor, bem, este pode ser para sempre ou parafraseando o poetinha, que seja eterno (infinito) enquanto dure. E se você chegou até aqui - neste texto - e não sabe ainda se “trepa e sai de cima”, fica a pergunta: foi bom para você? ;-)