As lúdicas aventuras do avião de cor local
por Renato HermsdorffA animação brasileira As Aventuras do Avião Vermelho se baseia no livro homônimo de Érico Veríssimo, escrito no longínquo ano de 1936. Uma história familiar de aventura, calcada em valores importantes, e que estimula a imaginação da criança.
Com uma abordagem colorida, a adaptação para o cinema pelos diretores Frederico Pinto (mais conhecido por sua função como diretor de arte, ele tem no currículo o infantil Eu e Meu Guarda Chuva, Entre Nós e VIPs) e José Maia (diretor de animação) acerta na escolha do texto, de forte cor local – gaúcha, é verdade, sobretudo no sotaque, já que o Rio Grande do Sul é a terra de grande parte da equipe que realizou o longa (a começar pelo autor da obra original), mas de fácil apelo para o restante do país. E a despeito da idade do texto, há uma preocupação válida de atualizar a obra com referências a 2001 - Uma Odisséia no Espaço, Guerra nas Estrelas e até Chapolin.
A trama apresenta a história de Fernandinho (voz de Pedro Yan), um garoto que, com a perda da mãe e a ausência do pai (Sergio Lulkin), sempre ocupado com o trabalho, acaba se tornando bagunceiro – e solitário. Culpado, o pai, então, tenta se reaproximar presenteando-o com toda a sorte de agrados, e o menino acaba desenvolvendo uma especial afeição por um livro da época da infância do pai, que conta as aventuras do Capitão Tormenta.
O herói é um aviador que ficou preso na península de Kamchatka. Fernandinho, então, decide salvá-lo no outro lado do mundo e convoca seus brinquedos Ursinho (Wandi Doratiotto) e Chocolate (Lázaro Ramos) para embarcar no Avião Vermelho (que também tem voz, de Milton Gonçalves). Juntos, eles vão da lua ao fundo do mar, passando pela África, China e Índia até chegar à Rússia.
A exemplo de produções internacionais caprichadas como Toy Story, os brinquedos ganham vida – aqui, na cabeça de Fernandinho. E, para um público acostumado ao estímulo constante de filmes estrangeiros de orçamento estratosférico (Disney, Pixar, Dreamworks), o 2D tradicional de As Aventuras do Avião Vermelho pode parecer um tanto quanto rudimentar – e vai ter que gastar muito combustível para prender a atenção das crianças.
Apesar dos ótimos diálogos, os episódios de aventura são um tanto quanto repetitivos, talvez para atrair os menores, o que resulta em um arco do personagem central forçosamente estendido para caber no formato de longa-metragem. Porém, além de propagandear o prazer da leitura, o filme tem como mérito discutir a relação pai e filho, por meio de um enredo lúdico e educativo. E sem legendas.