Um diretor tem direito de optar por filmar uma peça de teatro; não há nada errado nesta escolha. Acho que seria mais coerente que o filho do dramaturgo Nelson Rodrigues filmasse a peça de seu pai ad integrum. Não é à toa que toda a obra "rodrigueana" já ganhou a telona, exceção feita a "Vestido de noiva". Por que? A peça é complicada em ser adaptada para o cinema já que ela mistura a memória e os delírios dos personagens, alternando passado e presente (o ano de 1941 e o início do século XX). O filme deixa a desejar por ser confuso na fusão dos dois pólos da narrativa, deixando a sensação de náusea, como se estivéssemos num navio saboreando as ondas do mar e balançando de um lado para o outro. Todos já leram ou já ouviram falar na trama das duas irmãs, Lucia (Letícia Sabatela) e Alaíde (Simone Spoladore) que estão apaixonadas pelo mesmo homem, Pedro (Marcos Winter). Alaíde "rouba" Pedro de Lucia, que por sua planeja com o amante o assassinato da irmã. Dessa forma, Lucia poderia casar com Pedro. Antes do ser atropelada, Alaíde lê o diário da cafetina franco-brasileira, Madame Clessi (Marília Pera) e mergulha nos devaneios desta. A memória de Alaíde vai se refazendo na medida em que vai contando o enredo de seu amor por Pedro. Se por um lado a atuação de Marília Pera é fantástica, justamente pelo fato dela ter sua carreira ligada ao teatro, além de sua qualidade como atriz, é claro, de outro lado Simone Spoladore é histriônica demais. A montagem do filme também deixa a desejar. O americano, Eric Marin, que montou o filme em blocos e ía enviando dvds dos EUA para o diretor Joffre Rodrigues fez um trabalho porco. O segmento da operação de Alaíde toda hora é colado no restante da trama é de uma falta de tempo cênico indescritível. O segmento dos jornalistas que se abastecem de uma notícia envolvendo uma mulher bem vestida, bonita, que é atropelada, também é destituída de razão, assim como boa parte do filme.