O filho de Fernanda Montenegro e Fernando Torres conseguiu arregimentar R$ 6,5 milhões e um elenco estelar para o seu projeto: Stênio Garcia, Tony Tornado, Mauro Mendonça, Lúcio Mauro, José Wilker, Domingos de Oliveira, Pedro Cardoso, Miguel Falabella, além dos seus prórprios pais. Tudo apontava para o sucesso, porém.... Bem, vamos ao enredo. Célio Rocha (Pedro Cardoso) é um jornalista que é convocado pelo seu redator, Noronha (Mauro Mendonça) a entrevistar o filho de um dos maiores nomes da construção no Brasil, Otávio Sabóia (Miguel Falabella). Essa incumbência deveu-se ao fato dos de Célio e Otávio terem sido amigos de infância. Na verdade, Otávio queria convencer Célio a escrever uma matéria favorável à sua pessoa, que estava mais mal falada que mulher da vida, já que um projeto imobiliário do seu pai, denominado Paraíso, na Barra da Tijuca, com mais de 800 unidades, não foi entregue aos seus compradores. Lembram-se da Encol? Qualquer semelhança não é coincidência. Célio nutria um asco especial por seu ex-amigo de infância, pois o seu pai (Fernando Torres) havia pago todas as prestações do apartamento 808 e não recebeu as chaves do seu imóvel. Mesmo assim, Célio escreveu uma matéria propícia aos interesses de Otávio Sabóia. Dessa forma, Otávio iria a Brasília e conseguiria o seu almejado escopo: um empréstimo com um ministro que já havia ajudado o seu falecido pai (Paulo Goulart). Assim, ele teria como entregar o Paraíso para os seus verdadeiros donos e, principalmente, tiraria o seu nome da lama. A meta do jornalista, cujo pai estava doente pelo fato de não ter recebido a sua propriedade, era testemunhar mais um esquema de corrupção envolvendo a alta cúpula governamental e denunciá-la na sua coluna no jornal. Quem está acompanhando estas mal-traçadas tem certeza que se trata de um filme de delação das mazelas sociais que afetam o nosso país. Mas, espere um pouco. Desde quando os atores Pedro Cardoso e Miguel Falabella servem para esse propósito? Eles são atores cômicos. A idéia de Claudio Torres provavelmente era justamente essa, usar essa idiossincrasia a seu favor na narrativa do filme. Só que a coisa não pegou. E para agravar ainda mais a situação, e daí o porquê do título do filme, a revelação mística que ocorre para Célio é totalmente despropositada. Não vou dar mais detalhes para não estragar o prazer da surpresa para aqueles que venham a assistir o filme. Na verdade, Claudio Torres tentou fazer um filme "polivalente", que fosse engraçado, denunciasse a corrupção e que tivesse uma dose de misticismo. Com efeitos sonoros e visuais raramente vistos na indústria cinematográfica tupiniquim, ele imaginou que o tiro seria certeiro...pela culatra.