Conheço a história de "Lisbela e o Prisioneiro" há um bom tempo, pois pude assistir as duas versões anteriores da história. Na época em que foi exibido na TV o que me fascinou foi o encantamento de Lisbela com o cinema, que expunha sentimentos bem conhecidos de todo bom cinéfilo. Já no teatro fiquei impressionado com a agilidade da trama, a diversidade cultural do filme e a proximidade que a peça tinha com um longa-metragem de cinema. Lembro inclusive que, na época, comentei que não seria muito difícil adaptar o texto da peça para que se tornasse um longa-metragem. Anos mais tarde, foi exatamente isto que aconteceu. "Lisbela e o Prisioneiro", o filme, mantém muitas características da peça teatral. Utiliza um humor rápido e inteligente, apostando nos costumes e tradições do Nordeste, algo que já fora visto anteriormente em "O Auto da Compadecida", e também na paixão pelo cinema. É claro que, por ser agora um longa-metragem, a história teve que ser expandida. Diversas cenas de filmes assistidos por Lisbela foram incluídas na trama, bem como Leléu ganhou uma história maior antes de conhecer Lisbela. Mas nada que atrapalhe a diversão que é assistir a "Lisbela e o Prisioneiro". Sim, porque "Lisbela" é, antes de tudo, um filme divertido e com sotaque tipicamente brasileiro. Explora a típica malandragem local, através de Leléu e Citonho, além de personagens característicos da região, como Frederico Evandro e Douglas. Além do roteiro, recheado de piadas rápidas e inteligentes, o elenco é outro ponto forte do filme. Selton Mello brilha na pele de Leléu, sendo bem coadjuvado por Tadeu Mello, Virginia Cavendish e Débora Falabella. Outro que aparece muito bem em cena é Marco Nanini, como o matador Frederico Evandro. Nanini consegue expôr a dureza do seu personagem deixando-o também divertido, num trabalho também elogiável do diretor Guel Arraes, que mesmo tendo um matador em cena não deixa o filme ficar pesado em momento nenhum. Com todos estes fatores aliados ainda a uma edição ágil, bem conhecida daqueles que já viram os trabalhos anteriores de Guel Arraes no cinema, "Lisbela e o Prisioneiro" torna-se um filme divertidíssimo e, com certeza, um dos melhores desta grande safra do cinema nacional em 2003.