Daniel Filho, sem dúvida alguma, é um dos maiores diretores e atores brasileiros de todos os tempos. Sua importância não se resume somente à história da televisão e do teatro. Daniel é um dos grandes responsáveis pelo momento atual do cinema brasileiro. À frente da Globo Filmes, ele produziu alguns dos maiores sucessos de bilheteria, em 2004, como “Cazuza – O Tempo Não Pára” e “Olga”. E Daniel Filho pode adicionar mais um sucesso ao seu currículo com este “A Dona da História”, filme que foi produzido e dirigido por ele.
O roteiro de “A Dona da História” foi baseado na peça homônima do escritor pernambucano João Falcão. Em seu texto, Falcão conta a história de Carolina, uma mulher que, diante da vida que leva, entra em uma espécie de crise e – através de diálogos com o seu eu mais jovem – começa a questionar as suas escolhas e os caminhos que seguiu. Ela teme ser tarde para recomeçar ou retomar a vida e imagina o que teria acontecido se ela tivesse tomado rumos diferentes. Seria ela mais feliz ou mais triste? Teria ela uma vida melhor?
Carolina é apresentada a platéia em dois momentos distintos de sua vida. No primeiro deles, a personagem é vivida pela talentosa Débora Falabella e é uma jovem sonhadora, que acredita que a vida é um grande filme, no qual ela é a estrela máxima. A mãe dela (Giulia Gam) quer que a filha esteja rodeada das melhores companhias (leia-se os mais ricos) e arrume um bom casamento. Por outro lado, Carolina possui o grande desejo de tornar-se uma bailarina e atriz profissional e divide estes anseios com a amiga e confidente Maria Helena (a ex-VJ da MTV Fernanda Lima). É aí que aparece Luís Cláudio (Rodrigo Santoro), o seu grande amor e homem que irá “atrapalhar” todos os seus planos.
Trinta anos depois, vemos Carolina, agora vivida por Marieta Severo, uma mulher madura, que deixou de lado os sonhos para enfrentar a realidade sendo mãe de quatro filhos e continuando a grande história de amor com o marido Luís Cláudio (Antonio Fagundes), o único homem de sua vida. Os dois planejam se mudar para um apart-hotel e aproveitar da nova vida juntos, viajando bastante (ele quer ir para Cuba e ela para destinos mais românticos como Paris, Londres e Veneza). A crise de Carolina é deflagrada ao ver que, comparada aos amigos (Maria Helena, quem diria, foi aquela que se tornou a atriz de sucesso), ela pouco viveu, ela pouco tem para contar.
Por esta razão, na sua imaginação, se ela quisesse ser o que sempre desejou, ela teria que ter abdicado daquilo que ela mais ama: o marido Luís Cláudio. Nas diferentes vidas que ela imagina para si mesma, Carolina é uma solteirona dona de uma vídeo locadora, uma dondoca rica e, finalmente, uma atriz de sucesso. O que Carolina aprende é que a felicidade e a realização maior só podem ser encontradas em um destes caminhos que ela visualiza para si mesma.
“A Dona da História” é um filme de atores. Era fundamental para o bom andamento da história ter uma Carolina única, apesar das duas intérpretes diferentes. Débora Falabella e Marieta Severo alcançam este propósito ao realizarem um trabalho de composição muito bem feito e que mostra certa continuidade (algo que não vemos acontecer entre Rodrigo Santoro e Antonio Fagundes, que mostram, cada qual, a sua visão de quem é Luís Cláudio). “A Dona da História” é um filme competente, sensível e que faz um belo retrato da alma feminina.