O título, perfeito, antecipa toda a história daquele que, pra mim, é o melhor filme da Catherine Breillat até hoje. Daqueles momentos em que um cineasta atinge uma maturidade, e mais: de uma forma diferente de tudo o que havia produzido até então. Curioso saber que o filme é realmente autobiográfico, pois fui a ele sem saber nada sobre, apenas que era realizado por ela e tinha Isabelle Huppert, e durante o tempo todo ao longo da narrativa eu percebi um 'mea culpa' da diretora francesa com relação ao próprio cinema que faz, e achava que a personagem tinha algo de alter-ego da diretora, antes de saber que era uma representação dela própria. A afirmação de Vilko à diretora de filmes quando fala que seu agente lhe disse que ela "só faz filmes pornográficos" atinge um outro nível.
E que filme sensacional. História intrigante, inexplicável mesmo, e muito instigante. Tudo, absolutamente tudo graças à monstruosa performance de Isabelle Huppert, calcada em uma aparente transformação gestual que deixaria qualquer grande atriz com inveja. É embasbacante o que ela faz aqui. E Breillat parece querer levar ao público sua degradação moral e física com uma obsessão quase clínica. É tudo extremamente visceral, quase palpável. Sofrido, também, inclusive psicologicamente. O entendimento de tudo o que fez, mas sabendo que na verdade, não sabe o porquê daquilo ("Era eu mas não era eu", repete a cineasta várias vezes), é nos passado de uma forma semi-agonizante naquela cena final, onde o rosto de Huppert focalizado em Primeiríssimo Plano, encerra um dos melhores momentos que eu vi no cinema esse ano. E sem dúvidas, o melhor momento de uma atriz no ano, até agora.