Inegavelmente, devemos lamentar que "Caminhos da floresta" é um filme fraco. Talvez não tão ruim quanto alguns dizem, provavelmente impulsionados pela decepção ante a propaganda (Disney, todos sabemos, sabe fazer marketing como nenhum outro estúdio), mas muito inferior do que se esperaria de um sucesso da Broadway. Mas como, com um bom elenco? Minha suspeita é que nem todo sucesso DA Broadway apresentado NA Broadway seja sucesso ao ganhar ares externos. Isto é, não apenas porque Rob Marshal seja o diretor do musical (diretor também de "Chicago"), nem porque Meryl Streep e Johnny Depp (dispensam apresentações) estejam no elenco é que o filme terá qualidade.
A começar pelas músicas, que certamente só fazem sucesso na Broadway. Não por serem ruins, mas por não serem verdadeiramente músicas. Trata-se, em verdade, de um musical "cantarolado", e não propriamente "cantado". Vale dizer, a base são os diálogos estuprados por uma melodia chata e bastante repetitiva. Alguém em sã consciência ouviria aquelas músicas fora do musical!? Duvido muito! Esta é a primeira diferença de "Caminhos da floresta" em relação aos musicais que saíram da Broadway e fizeram sucesso fora (como o já citado "Chicago"). E não adianta dizer que a lógica deu certo com "Os miseráveis", pois, além de as músicas serem melhores (no mínimo, podem ser ouvidas fora do musical), a história é clássica, não se pode comparar.
Ok, é verdade que "Caminhos da floresta" usa como pernas de pau contos de fada, também muito conhecidos. Mas, como pernas de pau, não dão uma sustentação firme: existem várias diferenças em relação às histórias originais (afinal, não é cópia) e é feito um fio condutor para que a salada seja feita (misturando-se Cinderela, Rapunzel, João - aquele do pé de feijão -, Chapeuzinho Vermelho, o lobo, a bruxa etc.), o qual, a rigor, é bastante frágil. Louvável a originalidade do roteiro, mas não chega a compensar as músicas ruins.
Não é menos verdade que o elenco (como um todo) é, no mínimo, razoável. O erro acaba sendo o maior acerto: Meryl Streep, excelente como sempre (indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante), que, todavia, acaba roubando demais a cena ao aparecer (e que maquiagem espetacular!). Ironicamente, outro erro também é um acerto: o figurino é magnífico (também indicado ao Oscar, bem como design de produção), mas acaba se destacando mais que muitos dos outros elementos (a começar pelas músicas). Paradoxal, não? Querem outro erro que também foi acerto? Johnny Depp: mais uma vez, ótimo, mas em aparição tão fugaz que nem permitiu um aproveitamento do seu lobo mau na história. O único acerto completo foi Daniel Huttlestone, ator miriam que já havia sido destaque em "Os miseráveis" como Gavroche: vai longe o moleque. Emily Blunt mais uma vez mostra qualidade inquestionável, para compensar a insossa Cinderela da fajuta Anna Kendrick. O nome já famoso de Chris Pine deveria surgir para compensar o não tão famoso de James Corden, mas acaba sendo difícil decidir qual o pior. Culpa do roteiro, novamente. O bom de Pine e seu colega também príncipe da história é aceitar recriar a ideia de príncipe, longe (mas muito longe) da tradicional perfeição. Quiçá o melhor dos elementos da obra, em especial pela originalidade e pelo senso crítico. Por exemplo, em qual conto de fadas o príncipe admite ter sido "criado para ser encantador, e não sincero"? Pena ser esse um elemento minúsculo ante a orquestra de equívocos.
Mas não é só de erros que "Caminhos da floresta" vive. Além de atuações de destaque e um visual estonteante, reviver contos de fadas (na esteira de outros filmes recentes que vieram, e outros que ainda virão) acaba sendo bastante agradável, ainda que em um filme massante, cansativo e com músicas ruins. De forma semelhante a "A entrevista", vale mais pela curiosidade que pela qualidade.