Adoro o cinema antigo. Em uma época clássica, diferenciada, menos superficial e mais glamurosa, Grace Kelly era não só um colírio para os olhos. Era ótima atriz e junto com Audrey Hepburn divide o prêmio de favorita no meu coração das atrizes de sua época. Nesta biografia cinematográfica da atriz que virou princesa, o foco fica na vontade de Grace de voltar a trabalhar com Hitchcock (com quem, aliás, fez três filmes excelentes) ou ficar ao lado do marido em meio a uma crise política entre França e Mônaco. A história da super atriz que abandonou Hollywood para se casar com o Príncipe de Mônaco, mostra, por fim, que ela não vivenciou o conto de fadas que a maioria das pessoas poderia imaginar. Se fosse só isso, o filme teria tudo para ser incrível. Contudo, o filme recebeu uma avalanche de críticas negativas (muitas delas, ao meu ver, exageradas) e há realmente muitos deslizes durante a exibição do longa. Apesar de visualmente bastante charmoso, o principal problema do filme é a narrativa. Começa interessante e depois se mostra extremamente arrastado e superficial. Alguns diálogos são tão rasos ou forçados, que causam bastante estranheza e falta de naturalidade. Grace Kelly é mostrada como uma heroína de novela mexicana. Justíssima, imaculada, brilhante, apesar de sofredora, mal compreendida e prestes a sacrifícios (como as princesas nas animações da Disney). Sua aparente fragilidade sempre se mostra apenas uma impressão, pois ela na verdade demonstra total capacidade de superar obstáculos e ponderar sobre o melhor a ser feito, como uma verdadeira heroína, quase mártir. A superficialidade do texto se mostra clara desde o início, e o ritmo sonolento que o diretor prefere utilizar pra contar sua história torna tudo num festival de clichês à lá Maria do Bairro. Apesar da parte técnica muito boa, e de um elenco com ótimas interpretações de Tim Roth e Frank Langella, há uma irregularidade incômoda na atuação de Nicole Kidman. Por vezes, ela mostra bastante eficiência e percebe-se uma semelhança incrível com Grace Kelly em sua postura, em seus movimentos e tom de voz. Porém, muitas vezes ela parece mesmo a Nicole Kidman de sempre. Difícil realmente vê-la como a atriz icônica que interpreta na tela. Não há dúvidas de que Nicole Kidman, quando quer, é ótima atriz, mas aqui pouco me convenceu, apesar de sua inegável dedicação ao papel. Com tantos altos e baixos, e em meio a discursos tão piegas, o filme fica no meio do caminho entre um grande potencial e falta de afinidade com quem assiste. Por fim soa como um filme frio que poderia ter explorado muito mais a magnitude da história a ser contada. Para quem gosta da Grace Kelly, vale a pena conferir pela curiosidade. Se você nem sabe quem ela foi, melhor mesmo assistir ao blockbuster que estiver passando na sala de exibição ao lado.