Maléfica é nada além de mais uma releitura de um grande clássico que os estúdios Disney fizeram questão de estragar. Mesmo com um elenco de peso, e uma superprodução, a trama deixou (muito) a desejar no roteiro e desenvolvimento da história. Eu ainda sonho com o dia em que os grandes estúdios terão coragem de filmar os contos de fada da forma que ele realmente foi escrito, enquanto isto não acontece, vamos aumentando o número de filmes produzidos para a Sessão da Tarde.
Ok ok, o filme é destinado ao público infantil, não poderia ter toda a perversidade que existe na história original*, porém poderia ser feita uma trama mais bem amarrada, que alcançasse também os adultos, é possível fazer, basta ter a intenção.
*Para quem não conhece os contos dos irmãos Grimm, eles têm a finalidade de amedrontar as crianças, e eram cruéis histórias de terror. A Bela Adormecida, por exemplo, ao cair no sono profundo, foi abusada sexualmente por diversos cavaleiros que passavam pelo seu reino, engravidando de alguns, sendo que no final ela acorda da maldição velha e com vários filhos para criar sozinha.
Bom, depois de diversas experiências negativas com os estúdios Disney, já fui com uma expectativa bem baixa sobre o filme, mas logo de cara fui surpreendido com a qualidade da produção e efeitos especiais. É um filme que agrada aos olhos, e diferente de muitas das ultimas superproduções, não foi feito para impressionar somente em 3D. ( o que conta como ponto positivo pro filme, vez que eu detesto ver filmes em 3D).
Com uma fotografia magnífica, o filme encanta durante os primeiros 7 minutos, depois cansa, pois o roteiro não acompanha a qualidade técnica.
Caímos mais uma vez no comum, é apenas mais um filmezinho de redenção, e não é uma redenção após uma série de maldades perversas, como pode sugerir o nome “Malevóla”. A personagem tem apenas um ataque de fúria, uma TPM sem brigadeiro, e sua maldade é momentânea, dura cerca de 5 – 10 minutos do filme.
A produção também deixa a desejar no quesito emoção, nada surpreende no enredo, nada de revolucionário, nem de diferente.
A abordagem do filme – contar a história da perspectiva da vilã – é um toque especial mal aproveitado. Ele cumpriu sua missão de forma pobre, conseguiu demonstrar que não existe bem/mal e sim pontos de vista diferentes, mas não fez isto de uma forma que levasse as pessoas a raciocinar sobre isto, ele simplesmente faz um trabalho de inversão de polos, onde o Rei se torna o grande vilão, e a Malévola se torna a guerreira injustiçada que cometeu um erro e se arrependeu. Triste ver o dinheiro desperdiçado com uma produção excelente, porém sem conteúdo.
Por outro lado, mesmo com a falta de enredo, em termos técnicos o filme não deixa a desejar em nada. Trilha sonora, fotografia, efeitos especiais, tudo impecável. A atuação também está excelente, não tinha como ser diferente também! Angelina Jolie no papel principal, Elle Fanning – uma das grandes promessas da nova safra de atores de Hollywood – como a Princesa Auróra, Sharlto Copley como o "Rei" Stefan e a cereja no bolo: Sam Riley como Diaval.
Para quem não conhece, Sam é um ator relativamente novo, porém um grande nome na cena independente. O ator britânico é conhecido por interpretar Ian Curtis – vocalista do Joy Division - no filme Control, de 2007, dando a ele o prêmio de “Novato mais promissor” no British Independent Film Award.
Angelina levou o enredo nas costas, toda a falta de emoção da história teve uma pequena salvação pela interpretação da atriz, que marcou o filme em dois momentos – seu grito de desespero e dor,
ao ver que suas asas haviam sido cortadas pelo homem que ela acreditava ser o amor de sua vida
; e depois no batizado de Auróra, momento em que ela lança a maldição, podemos ver a dissimulação em seu sorriso, olhos, jeito de andar. Por mais que muitos críticos digam o contrario, Angelina é uma atriz completa.
Enfim, Malévola é um filme ótimo nos termos técnicos, porém com um roteiro muito mal aproveitado. Poderíamos estar diante de um clássico, de uma superprodução que seria comentada por anos, mas não, é só mais um blockbuster infantil para assistir na sessão da tarde. Para aqueles que são valor na imagem do filme, vale a pena assistir. Eu particularmente prefiro um filme mal feito com um roteiro bom, do que um filme muito bem feito, porém sem conteúdo.