Barbara é comparado muitas vezes ao bem-sucedido A Vida dos Outros - vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007. Mas o filme, na verdade, além de retratar a dureza dos últimos dias da Alemanha Comunista, é totalmente diverso em sua proposta. A realidade da ditadura socialista da Alemanha Oriental pré-unificação é somente um pano de fundo para discutir questões pessoais de foro íntimo que encontram eco em qualquer lugar do mundo, seja qual for a situação política ou social.
No início do filme, acompanhamos a chegada de Barbara para trabalhar em seu novo endereço. Forçada pelo governo a assumir um posto em um pequeno hospital do interior, não é de se estranhar sua inicial tendência a não demonstrar qualquer simpatia e mesmo sua desconfiança aos novos colegas - inclusive em relação a André, que já de início demonstra interesse e afeição pela nova médica. Os colegas interpretam seu comportamento como uma espécie de esnobismo típico da grande cidade.
Algo que é interessante no filme é que, como espectadores, de início sabemos tão pouco sobre Barbara quanto seus colegas médicos da comunidade. Leva-se algum tempo para irmos montando o quebra-cabeça que irá revelar seus planos, e também - o que é mais importante - os valores morais e éticos da personagem, mesmo frente às adversidades: a Stasi (a polícia política) a vigia de perto, sendo frequentes as visitas sem aviso ao seu apartamento e até mesmo o constrangimento e humilhação das revistas íntimas.
O cuidado de produção do filme é tão especial que alguém desavisado pode imaginar que tenha sido mesmo rodado na época retratada - os anos 70-80 na Alemanha Oriental. Mas o filme do diretor Petzold foi filmado e lançado há pouco mais de 1 ano, e rendeu-lhe um prêmio de direção no Festival de Berlim de 2012, além de ter sido a escolha oficial da Alemanha para concorrer ao Oscar deste ano.
Ao desenrolar da história, como o destino da maioria das pessoas, uma nova paciente do hospital (Stella), a conversa com a acompanhante do amigo de seu namorado e a afinidade com André, irão redefinir o destino que Barbara vem traçando para si, ao mesmo tempo que se processa uma importante tomada de consciência em relação ao seu valor naquela comunidade que ela não escolheu. Tudo isto converge para que Barbara se veja obrigada a tomar uma escolha decisiva e até então impensada para sua vida.
Muito além de uma simples crítica às mazelas do período comunista vivido pela Alemanha Oriental, Barbara é um filme sobre fazer escolhas, redefinir destinos e rever prioridades. Há poucos filmes hoje em dia tratando desses temas, e com a competência que o roteiro de Petzold demonstra.