Confesso que de todos os filmes nomeados ao Óscar para melhor filme do ano, “Beasts of the Southern Wild” foi aquele que menos me conseguiu cativar, mesmo depois de ver o trailer do filme a vontade de assistir a este drama não aumentou e continuei com as expectativas bastante baixas. E foi assim que comecei a ver “Beasts of the Southern Wild”, sem grandes expectativas e bastante reticente quanto à história e às interpretações do filme, o que se revelou ser bom, pois estava redondamente enganado.
“Beasts of the Southern Wild” apresenta-nos uma história protagonizada por um conjunto de personagens que vivem numa sociedade à parte da civilização, uma comunidade bayou fictícia, quase selvagem, que vive numa ilha rodeada de água, onde o mito e o rito parecem andar de mãos dadas.
Este trama tem como protagonista principal a carismática e encantadora Hushpuppy, uma jovem que vive num meio quase selvagem, rodeada de porcos, galinhas, crocodilos, entre outros animais, enquanto lida com o feitio bastante complicado do seu pai. Estes habitam numa comunidade com regras e hábitos muito próprios, longe das leis da civilização e da zona industrial que surge para lá da divisão da sua terra recheada de natureza, uma terra que se revela madrasta quando uma forte tempestade inunda todo o local e cria inúmeras transformações no modo de vida dos habitantes. Depois desta inundação viram-se obrigados a encontrar uma forma de sobreviverem, os habitantes são obrigados a tomar decisões complicadas, enquanto Hushpuppy vai conhecendo novas experiências, conquistando tudo e todos com o seu espírito terno, selvagem e genuíno.
Este brilhante longa, primeiro de Benh Zeitlin, foi filmado com baixo orçamento, sendo a interpretação da jovem Quvenzhané Wallis um dos factores de maior peso para o sucesso deste filme, que tão depressa consegue despertar o maior sorriso do mundo como as mais sinceras lágrimas do espectador. A relação bastante peculiar e por vezes difícil que Hushpuppy mantém com o seu pai, é outro dos factores de maior relevância do filme, onde formam um estranho laço que os une de uma forma estranhamente comovente.
Inspirado na peça “Juicy and Delicious”, de Lucy Alibar, “Beasts of the Southern Wild” não poupa nos momentos emotivos, que surgem alicerçados por uma ritmada banda sonora, ao mesmo tempo que o eficaz argumento do filme consegue apresentar de forma terna a história de uma rapariga que cresce num cenário selvagem, onde as “bestas” do título não parecem ser capazes de travar o seu enorme espírito, força de vontade e ternura.
Em termos de interpretações, como já referi, a jovem Quvenzhané Wallis esteve absolutamente irrepreensível, justificando na plenitude a sua presença na lista de nomeados ao Óscar de melhor actriz principal. Quanto ao pai de Hushpuppy, interpretado no grande ecrã por Dwight Henry, foi outro a conseguir uma interpretação recheada de coisas boas, vindo dele algumas das cenas mais fortes e emotivas do filme. Todo o restante elenco secundário, composto maioritariamente por actores amadores, foi capaz de alcançar interpretações seguras e de acrescentar algo mais a este fantástico filme de Benh Zeitlin.