Existe muito de “Contágio” em “Terapia de Risco”. Não estamos somente nos referindo ao fato de ambos serem filmes dirigido por Steven Soderbergh e escrito por Scott Z. Burns, mas, principalmente, quando percebemos que os dois longas oferecem um olhar bem atento aos bastidores da indústria de saúde e farmacêutica. Se “Contágio” acompanhava o ciclo de existência de uma epidemia a nível mundial, “Terapia de Risco” aborda uma realidade mais bem definida e que envolve uma jovem chamada Emily Hawkins (Rooney Mara) e seus conflitos pessoais que a levam a encarar um misto de ansiedade e depressão.
Quando conhecemos a conjuntura por trás dessa personagem, entendemos o por que de ela ser acometida pela enfermidade que a aflige. Sem uma estrutura familiar que lhe dê suporte, Emily encontrou seu eixo na figura de Martin (Channing Tatum, reprisando a parceria com o diretor depois de “Magic Mike”), com quem ela se casou. A convivência entre os dois foi muito intensa, porém exígua, tendo em vista que ele foi preso por fraude no sistema financeiro. Quando entramos em contato com Emily, aliás, ela está lidando com toda a tensão advinda da liberdade do marido e da pressão que ela coloca sob si mesma de sustentar a família enquanto o marido não recoloca a sua vida no lugar.
Quando Emily procura o psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law, que também esteve em “Contágio”), após uma tentativa frustrada de suicídio, é que “Terapia de Risco” entra em seu tema central: a relação entre o uso de remédios em pacientes com patologias como as que Emily enfrenta – e que são pautadas pelas mudanças de humor e de comportamento – e a forma como os médicos receitam esses medicamentos – muitas vezes, eles se envolvem em estudos, nos quais são pagos, e colocam seus pacientes como cobaias de pílulas sem eficácia ou efeito comprovados. O filme tira seu título original – bem como a tradução – dessa situação.
Se tivesse seguido o caminho documental que “Contágio” aborda, com uma análise mais fria de um tema bem amplo, “Terapia de Risco” até que poderia render um bom filme. Entretanto, o problema dessa obra mais recente de Steven Soderbergh é justamente o recorte particular que faz na história de Emily Hawkins. Isso faz com que “Terapia de Risco” opte por uma abordagem narrativa bem complicada, cheia de tentativas de surpreender o espectador – o que faz com que a história fique com alguns furos mal explicados e vá perdendo seu impacto a cada nova camada que vai sendo desnudada para a plateia.