O diretor Steven Soderbergh entrega com Terapia de Risco o seu filme mais sagaz em anos! Gosto muito do tom frio, essa fotografia apática que usa pra contar um thriller de tirar o fôlego sobre psiquiatria. Algumas pessoas podem se incomodar com a falta de tempo pra respirar no filme, e seus diálogos com termos específicos a todo o tempo, o que pode causar uma certa dificuldade de entendimento. Há que se prestar a atenção em alguns detalhes no meio de tantas reviravoltas.
E que reviravoltas! O roteiro de Scott Z. Burns dá espaço pra todos os personagens terem seus momentos no filme, e ainda sobram surpresas. A medida que o enredo avança e vamos percebendo que aquilo tudo, na verdade, é uma verdadeira guerra de raposas pra saber quem presta menos. O que denota uma certa inteligência na construção da trama é, justamente, que não sabemos quando ou porque exatamente torcer por aqueles personagens, já que a culpa máxima vai caindo gradativamente em cada um deles.
Rooney Mara é uma atriz tão sem graça, mas aqui dá um show. Principalmente nas cenas mais próximas do desfecho do longa, quando o filme não economiza em ousar em suas cenas com Zeta-Jones (outra que está muito bem). Todavia, o filme é mesmo de Jude Law. Protagonista absoluto, é dele que surgem as ações: acompanhamos a história sob o seu ponto de vista, e quando ele é enganado, somos juntos. Na rasteira que o roteiro nos dá no final, quando mostra se ele é um mocinho ou não (existe isso?), ele dá show também. Brilhante atuação.
Soderbergh se coloca à frente de muitos diretores de Hollywood, mais uma vez, na direção de atores, e em nesse filme inteligentíssimo, também na construção da mise-en-scene. Aqui, abusa de diálogos em off, começados numa cena em um ambiente diferente da cena de onde o texto origina-se, pra apenas depois nos levar até a presença do locutor daquela fala. Isso se mostra acertado, uma vez que só tende a deixar ainda mais claro o desespero velado que caminha lado a lado com a saga do "psiquiatra" e sua "paciente", de uma forma bastante sutil. A verdade é que aqui não deixa de constar denúncias e verdades sobre esse mundo da depressão, entretanto, vai além.
Como eu já disse ali em cima: Terapia de Risco é sagaz. E se destaca por isso. Não vai ser incomum gente saindo do filme sem entender nada, então eu deixo logo uma recomendação: revejam. Talvez com o final em mente, o filme se clareie, e faça ainda mais sentido do que visto pela primeira vez. Porque sim, aqui tem que se prestar atenção no limiar das situações, a tensão crescente e nas máscaras sendo colocadas e retiradas, na história maquiada da primeira meia hora pra, em seguida, o roteiro dizer muito bem por quais temas quer percorrer. Cinemão de qualidade que me faz apenas lamentar que Soderbergh esteja se despedindo do cinema aqui (segundo ele, esse é o seu penúltimo filme). Definitivamente, não deveria.