Matthew Vaughn é um nome conhecido – e amado – entre os fãs de quadrinhos. Seu estilo diferenciado de contar histórias de formas caricatas, mas sem errar na medida, deu origem aos ótimos X-men: Primeira Classe e Kick-Ass.
Veio então sua nova incursão ao mundo dos quadrinhos, Kingsman, baseado numa HQ de Mark Millar, que nos apresenta um jovem, Eggsy, que se junta a uma organização mundial de espionagem acima de qualquer governo e dedicada a sempre salvar o mundo, mas sem nunca se revelar. E Matthew Vaughn acertou novamente.
O filme é uma mistura muito bem dosada de paródia e homenagem ao gênero dos filmes de espionagem, pegando referências que vão desde os anos 70 até os dias atuais, passando por James Bond, Jack Bauer, Jason Bourne e muitos outros, sempre ressaltando o que cada época possui de melhor a oferecer.
Com essa proposta, o filme se atira em uma piscina cheia de clichés, sem o menor medo de usá-los. Temos piadas envolvendo telefones em sapatos, vilões revelando seus planos maléficos para o mocinho diante da morte e, quando este vence o mal, ainda temos aquela frase de efeito para finalizar a cena, tudo muito bem montado no roteiro de Vaughn e Jane Goldman. Por outro lado, seja por querer ou não, carrega as falhas do estilo, como personagens vazios, motivações fracas, terminando o filme com apenas o personagem Eggsy plenamente desenvolvido.
Kingsman é uma produção de contrastes e metalinguagem. O filme inteiro faz referências aos filmes de espionagem em seus diálogos e cria dois lados muito distintos para a disputa entre o bem e o mal. Até no figurino podemos ver isso, com os kingsmen usando ternos sempre alinhados, como devidos cavalheiros, enquanto o vilão parece um punk inglês que passou da idade, usando suas roupas coloridas e chapéu de aba reta.
Na produção do filme, o cuidado com que Matthew cuida de tudo é muito claro. As cenas de ação estão deslumbrantes, com diversas lutas incríveis, principalmente por conta da montagem que também remete a diversos filmes, usando câmeras lentas e coreografias irreais para mostrar a invencibilidade do nosso protagonista. A construção dos atos, gerando um acontecimento na metade do filme que quebra a ideia do cliché e deixa o espectador em alerta a partir dali, também funciona muito bem, não cansando em nenhum momento do longa-metragem.
Com tudo isso, é fácil conquistar o coração do fã do antigo gênero, mas Kingsman vai ainda mais longe e sabe se atualizar para conquistar também o jovem atual. Nós vemos isso através de diversos discursos dos personagens, desde a inserção da política como algo já acabado, em que governantes não fazem mais o que deviam, até a preocupação sempre presente das condições climáticas e teorias da conspiração envolvendo os governantes de todo o mundo. Mas é interessante notar como até nesses momentos o filme não perde sua pegada retrô, como uma cena onde um personagem apresenta um conceito extremamente inovador de uma rede de internet mundial, multi-plataforma e de graça, mas o faz usando um powerpoint digno daquelas velhas correntes de email.
Kingsman – O Serviço Secreto é uma sátira, uma homenagem e um filme que se conhece. Ele não está ali para ser comparado aos outros filmes do gênero ou para ser superior a eles, há uma fala no filme, naquela velha metalinguagem, na qual Vaughn deixa claro que o filme só tem a intenção de ser superior a si mesmo, nada mais. É um filme que pegou um gênero e fez sua própria versão dele, toda esquisita, explosiva e definitivamente ótima.