Os irmãos suicidas
por Bruno CarmeloNa primeira cena do filme, Maggie (Kristen Wiig) está segurando dezenas de pílulas na mão, prestes a cometer suicídio. Seus planos são estragados por uma ligação telefônica, informando que o irmão gêmeo Milo (Bill Hader) acaba de fazer uma tentativa frustrada de suicídio, e está se recuperando no hospital. Assim, os dois depressivos se reencontram, dez anos após um trauma familiar, e tentam ajudar um ao outro.
A partir deste momento, a narrativa alterna, como um metrônomo, cenas alegres e cenas tristes: ora os irmãos dançam juntos na sala de casa, ora choram por não terem empregos decentes. Ora eles inalam gás nitroso no consultório do dentista e brincam de soltar gazes, ora choram porque se arrependem de seus namoros e casamentos. Os dois estão em tela o tempo inteiro, e o roteiro acrescenta apenas dois coadjuvantes ao longo da trama, com o propósito claro de se relacionar afetivamente com cada um dos irmãos: Maggie passa a ter um caso com o professor de mergulho (Boyd Holbrook), e Milo volta a encontrar o professor de inglês (Ty Burrell) com quem saía durante a adolescência.
Apesar do roteiro um tanto esquemático, as atuações conseguem transformar a história em algo convincente. Wiig e Hader já haviam provado que podem se sair muito bem neste registro da comédia dramática, do tipo tragicômica ou patética, e voltam a reafirmar seu talento nesta história. O instante em que Milo faz um “lip sync” com a sua irmã é bastante comovente. No entanto, quando o filme abandona o humor para se tornar puramente dramático, rumo ao final, o elenco (inteiramente formado de peritos em comédia) se torna mais limitado.
Tecnicamente, o diretor Craig Johnson e sua equipe buscam a melhor forma de retratar a depressão e a melancolia. São frequentes as imagens escuras dos interiores da casa, com uma fotografia leitosa, enfumaçada, remetendo a um eterno sonho – ou pesadelo, como preferir. Cada imagem respira um tom fúnebre, lembrando que os dois irmãos suicidas também são filhos de um pai suicida, constituindo uma marca inesperadamente cômica nesta família de fracassados. Johnson insiste nos planos próximos, no rosto dos protagonistas, tentando captar ao máximo as transformações entre alegria, tristeza, rancor e ódio. Para o cineasta, a emoção de seus atores é mais importante do que a beleza dos próprios planos ou a verossimilhança dos conflitos.
No final, The Skeleton Twins desperta uma sensação medianamente satisfatória. O filme se dedica com afinco à construção psicológica dos personagens, elaborados em profundidade pelos atores, mas a dinâmica do filme é muito previsível, seguindo os moldes das comédias independentes exibidas em Sundance. O discurso proferido é o mesmo daquele martelado por dezenas de filmes “indies”: por mais que todos os membros da família sejam egoístas e cheios de falhas, é apenas na união que podem encontrar a paz. Família que se suicida unida permanece unida.
Filme visto no Festival do Rio, em setembro de 2014.