Os irmãos Wachowski mudaram o cinema com Matrix. O filme quebrou inúmeras barreiras cinematográficas, trouxe um estilo nunca antes visto no cinema e mecânicas que são usadas até hoje por inúmeros diretores, além de toda a filosofia envolvida na trama da trilogia.
Desde então, eles fizeram novos filmes, mas nada pareceu dar muito certo. O final da trilogia não satisfez, Speed Racer e A Viagem foram terríveis nas bilheterias, e muitas pessoas passaram a achar que os irmãos perderam seu rumo. Seu último filme, O Destino de Júpiter é, infelizmente, a prova dessa perda.
Enquanto seus últimos filmes ainda acertavam em gerar diversão (Speed Racer) ou trazer uma reflexão mais profunda, com bons discursos (A Viagem), O Destino de Júpiter é apenas um desses filmes hollywoodianos médios. Há uma sombra dos Wachowski ali, na profundidade com que o universo do filme foi criado, ou nas discussões filosóficas, mas não passam disso, sombras.
A trama (criada por eles) acompanha Júpiter Jones (Mila Kunis), uma terráquea que descobre ser a reencarnação da matriarca de uma das maiores famílias do universo, a dinastia Abrasax, e por isso ela passa a ser caçada pelos 3 irmãos que herdaram sua fortuna, Balem, Titus e Kalique, pois a volta dela tiraria todo o poder que eles conseguiram após a morte da mãe.
Como space opera, o filme não peca. O universo criado é bem interessante, cheio de conceitos e visuais incríveis, com destaque para as naves vistas no filme, bem diferentes do estilo robótico e futurista que vimos normalmente. Aqui elas são orgânicas, com peças independentes que remetem a formas até mesmo divinas. Os “policiais” do espaço possuem asas como anjos, e até mesmo suas naves individuais lembram o formato dos seres celestes.
Toda a filosofia que os diretores tanto gostam também se faz presente no filme, que transforma tudo em uma grande representação do capitalismo. No filme, a Terra não é nada mais do que uma fazenda, com os humanos sendo o gado. Somos criados para o abate, fazendo parte de uma indústria, com a família Abrasax a dominando e sendo, muitas vezes, acima de qualquer lei. Além disso, existem vários questionamentos envolvendo o consumismo, a busca incessante por tempo e o culto ao corpo que tanto vemos nas revistas.
Parece algo incrível, e deveria ser, mas aí entra o grande problema do filme: ser superficial. Nenhuma das questões acima é trabalhada com o mínimo de profundidade, desperdiçando o potencial do filme. Ao invés de nos fazer refletir sobre as mais diversas questões levantadas, o filme apenas joga alguma referência a elas, o bastante apenas para nós pensarmos “ah, que interessante”, para então encobrir isso com um romance desnecessário.
Romance, aliás, que toma boa parte do filme, sendo o grande protagonista. No meio de tantas questões interessantes, o que vemos se torna mais uma vítima do manjado “mocinho salva donzela”, descartando qualquer potencial para a história e para a personagem Júpiter, que tem um potencial incrível (é uma das pessoas mais poderosas do universo), mas que está no filme apenas para ser salva.
Com tudo isso, O Destino de Júpiter nada mais é do que um desperdício. O filme até consegue entusiasmar com algumas cenas de ação, mas isso não consegue nos tirar a sensação de que perdemos nosso tempo vendo algo muito aquém do esperado de um filme desse estilo. Diferente dos outros filmes dos irmãos Wachowski, esse não falha por não ter um público abrangente. Ele falha por ser uma história genérica, por nos prometer e nos mostrar tanto potencial, para então jogar tudo no lixo e nos dar o comum feito de forma ruim.