O jogo mudou, mas nem tanto
por Francisco RussoHá poucos meses atrás, chegou aos cinemas O Homem que Mudou o Jogo, com Brad Pitt. Nele era apresentada a nova realidade do baseball, onde números e análises técnicas com base nas estatísticas eram o suficiente para montar um bom time. Nada de olho no olho, lado psicológico ou coisas do tipo; o jogador era uma máquina, onde apenas suas marcas pessoais importavam. Menos de um ano depois, Curvas da Vida chega ao circuito reconhecendo este cenário, mas disposto a mostrar que não é bem assim que a banda toca.
Pode-se dizer que o longa-metragem de estreia do diretor Robert Lorenz seja uma espécie de anti-O Homem que Mudou o Jogo, justamente por valorizar a presença da velha guarda na arte de montar um bom time. No caso em questão, ela é representada por Gus Lobel, um olheiro veterano que confia apenas em sua experiência de anos na função, desprezando por completo as engenhocas oferecidas pela modernidade. Para interpretá-lo, Lorenz chamou o velho parceiro Clint Eastwood, especialista em interpretar personagens durões e com uma certa dose de rabugice. É então formado o cenário ideal para que, ao longo de 111 minutos, seja estipulada a exaltação do clássico em detrimento do moderno, como se um necessariamente precisasse derrotar o outro, sem qualquer chance de conviverem pacificamente.
É a partir deste confronto do velho contra o novo que toda a trama de Curvas da Vida é apresentada, seja nos métodos adotados por Gus e por Phillip (Matthew Lillard, o defensor das estatísticas) ou nas limitações físicas envolvidas. Trata-se de uma situação tão simplista, por apostar nos estereótipos ao invés de analisar ambos os lados, que o filme logo se torna muito previsível. As demais subtramas também não cooperam, contando com personagens absolutamente óbvios. Afinal de contas, o que esperar da filha que resolve ajudar o pai no que pode ser seu último trabalho como olheiro, passando por cima das desavenças históricas que possuem? Ou do jogador frustrado – solteiro, é importante frisar – que tenta a sorte como olheiro e se aproxima de pai e filha? Não é preciso ser gênio para deduzir qual é o caminhar da história.
Em meio a tantos clichês, o que acaba segurando o longa-metragem é justamente o carisma do elenco. Especialmente Amy Adams, que brilha pela naturalidade transmitida em cena. Clint Eastwood também está bem ao compor um personagem bastante conhecido, o do durão que esconde o lado afetivo, mas perde força justamente por não trazer algo de novo a este tipo de papel. Já Justin Timberlake cumpre sua função de forma convincente, sem brilhar nem comprometer. Como um todo, Curvas da Vida acaba sendo um filme ingênuo, por apostar em simplificações e estereótipos batidos, que conta com um elenco bem superior à história oferecida ao espectador. Mediano.