O patriotismo americano é sagrado. Sempre visto com bons olhos pelo público, sempre usado pelos cineastas, sempre com uma bandeira tremulando ao fundo. E é o que Foxcatcher usa em sua construção. Usa o patriotismo, usa a arma do “bom americano”, mas, felizmente, como um problema.
A história de John du Pont é uma história do fanático, do errado e exagerado. É realmente uma história de chocar o público. Tanto pelo personagem quanto pelo que há por trás dele. Os diálogos são fundamentais nesse ponto. Quase toda fala de John, todo discurso que ele dava, trazia o elemento do patriotismo, do sonho de ser um bom americano, de fazer o correto e lutar pelo país. E toda fala trazia algo errado, fosse na postura ou na escolha de determinadas palavras, era percebido que algo estava errado.
O filme acompanha a criação do campo de treino Foxcatcher, onde John uniu um grupo de lutadores para ganhar as olimpíadas de 1988, com destaque para os irmãos Mark e David Schultz, os maiores lutadores de sua época. Vemos os bastidores de tudo, da ida de Mark até o campo de du Pont, onde treinou sozinho e foi aliciado pelo seu treinador a fazer coisas que não faria em outras situações, como usar drogas e cair nas mãos do álcool, até a chegada de David, que virou treinador da equipe e resolveu tentar ajudar o irmão.
Enquanto a história, durante boa parte, não tem grande destaque, as atuações são sublimes. O trio principal, formado por John du Pont (Steve Carell), Mark (Channing Tatum) e David Schultz (Mark Ruffalo), funciona em um nível quase absurdo. Carell pouco fala, mas sempre consegue transmitir o que era o problemático John, principalmente pela postura física, estranha e até mesmo agonizante, pelo modo de andar, falar ou pelo olhar. Ruffalo, aqui encorporando um personagem que aparece pouquíssimo, traz um carisma essencial para a história, servindo de contraste com Carell, por conta de suas ações, atuação mais aberta e harmoniosa. A sua atuação com Tatum funciona impressionantemente bem, trazendo um ar de cuidado e carinho na relação dos irmãos. E, por fim, temos o próprio Tatum, que apesar de ser o mais fraco entre os três, também consegue surpreender pela qualidade na representação do lutador com os problemas que surgem com a relação entre Mark e du Pont. Sua expressão no começo do filme chega a ser assustadora, assim como sua postura física, e com o passar do tempo as coisas só ficam mais intensas na maneira como ele demonstra os problemas que surgem na cabeça de Mark Schultz.
Foxcatcher é um filme de entrega pessoal. O cuidado na maneira como foi filmado torna a história extremamente humana, principalmente pelo modo como os atos foram montados, trazendo altos e baixos nos momentos certos para manter o espectador no jogo, especialmente no ato final, terminando com o choque que o filme guardou desde o começo. E, acima disso, é uma história do fracasso americano. É uma amostra de que coisas erradas podem sair de um discurso “de bem”. É um retrato de que o fanático patriotismo americano pode gerar frutos bem azedos, especialmente se regados com tanto narcisismo e poder.