Conceituado principalmente na fantasia cinematográfica, Steven Spielberg estreia na Disney com o longa O Bom Gigante Amigo, adaptado de livro homônimo de Ronald Dahl, e infelizmente não repete a competência que norteia grandes longas seus como Jurassic Park (1993), E.T. — O Extraterrestre (1982) e até mesmo A.I. — Inteligência Artificial (2001).
O filme fala sobre Sofia (Ruby Barhill), uma órfã que é sequestrada por um gigante (Mark Rylance), que tem medo que a garota acabe espalhando que o viu e atraia os humanos para a sua terra. Inconformada, Sofia descobre que agora terá que viver com o gigante, mas não demora muito para que ambos se entendam. Logo, problemas com os outros gigantes surgem, e com ajuda da Rainha da Inglaterra, Sofia e o Bom Gigante Amigo vão tentar impedi-los que ataque os humanos.
Como aspecto negativo, o filme já conta com o fator de ser dos estúdios Disney, e por esse fato está impregnado com todo o ar costumeiro de seus live-actions já produzidos, no qual a protagonista ou tem que provar algo, ser algo, ou, como é aqui, passar por algo e conquistar a vitória. A direção de Spielberg salva o longa, que é nada além de uma produção 100% infantil. Não há mensagem nenhuma para se extrair do filme, e o pior é o fato de que poderia haver. Não passa de uma hora e cinquenta minutos de piadas num timing certo, bom CGI e situações engraçadas e que prendem o espectador na cadeira — impedindo que ele saia no meio do filme.
Ao longo de todo o filme, o espectador sente vontade de abandonar a sala, com a sensação de que não vai perder nada se o fizer — sensação que eu tive e a qual não me entreguei pelo fato do filme estar sendo dirigido por Steven Spielberg. O filme não consegue nem contar como entretenimento. Durante todo os dois primeiros atos, o longa é arrastado, não parece saber o que quer dizer, e deixa o espectador desnorteado durante diálogos enfadonhos e que se prolongam sem necessidade. Parece que é até uma enrolação de algumas horas para finalmente chegar ao terceiro ato, que é os humanos expulsando os gigantes de suas próprias terras.
Falando no confronto humano-gigante, chegamos a mais um ponto baixo do longa. Durante a produção, o núcleo de gigantes só ameaçam Sofia por esta estar em suas terras, nunca havendo menção de irem para Londres para devorar as crianças inocentes. E então, sem mais nem menos, Sofia e o Bom Gigante Amigo — que apesar de tudo ainda é um deles — se submetem a rainha e expulsam os gigantes de suas terras, sem esses não terem ameaçado nada e nem ninguém a não ser que estivesse em suas propriedades.
E, falando do estúdio, vê-se dedo dele por todo o longa. O filme se preocupa mais em trabalhar a relação de Sofia e o gigante, e quando chega no terceiro ato aonde poderia ser aproveitado ao máximo e ter bebido de um pano de fundo que salvaria a produção de ser uma tragédia, acontece tudo justamente ao contrário: a Rainha da Inglaterra aceita de mão aberta a existência de gigantes e um próprio dentro de seu palácio, e tudo continua fantasioso.
O 3-D já monopolizado é outro aspecto negativo. Não há, realmente, uma cena sequer na qual a tecnologia se faz presente, fazendo com que ela só sirva para arrancar mais dinheiro seu e incomodar suas orelhas com aqueles óculos insuportáveis. O roteiro, como já dito, é fraco e só serve para atrair o infantil.
Mas, mesmo conseguindo ter um roteiro que pode ser a certo ponto atrativo para as crianças, esse atrativo se deve mais, é claro, ao CGI bem feito e às cores que norteiam toda a trama. O CGI pelo menos consegue ser concreto e crível, e quando ele se confronta com os atores humanos, você se esquece, por um momento, que tudo aquilo se deve à tecnologia.
Outro e último ponto positivo aqui é a relação do gigante com a humana Sofia, que apesar de deixar o espectador adulto com uma pulga atrás da orelha pelo fato da motivação do gigante manter Sofia em sua casa em cativeiro ser fraca, é pontuada por boas piadas e momentos engraçados. O problema é que esse desenvolvimento se arrasta demais e impede que coisas mais importantes no longa venham à luz.
Das atuações não se pode extrair muito. Mark Rylance faz um bom gigante e Ruby, a menina Sofia, com certeza não é uma das revelações infantis do ano.
Sem atrativo para o resto do público, tentando emocionar em tentativas fracas e sendo um show de cores para os olhos infantis, O Bom Amigo Gigante Amigo não consegue ser um dos melhores de Steven Spielberg, tem medo de ser o que deveria ser e nem consegue se provar bom entretenimento. Às vezes, penso que os longas da Marvel — e os futuros da Lucasfilm — só servem para cobrir os buracos que os live-actions da Disney causam.
Nota: 3,7/10