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    Rocketman
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Rocketman

    O artista precisa de carinho

    por Bruno Carmelo

    Para quem se preocupava com uma biografia sobre Elton John produzida pelo próprio Elton John, pode ficar tranquilo: embora o filme ressalte o talento do cantor, ele está longe de se reduzir a um elogio edulcorado. Para quem temia um filme asséptico ao estilo de Bohemian Rhapsody (leia-se: atenuando a homossexualidade e as drogas para se tornar palatável ao público conservador), não há motivo para preocupação, pois o diretor Dexter Fletcher busca as maneiras mais criativas de representar o vício em drogas e o relacionamento com homens, tão clara quanto sensivelmente. Para quem temia uma simples enumeração de fatos mais marcantes da vida, é bom saber que a biografia oferece muito mais do que se descobriria numa página do Wikipédia.

    Feitas as precauções, resta compreender o filme pelo que ele é, no caso, uma extravagância kitsch destinada a investigar a carreira de Elton John (Taron Egerton) através da psicologia. O roteiro dedica uma parte importante de seu discurso a sustentar que todos os problemas e glórias na vida do protagonista se devem à falta de amor e à busca pelo mesmo. O talento musical teria surgido da necessidade de provar seu valor ao pai homofóbico, a dependência de substâncias químicas seria fruto direto do relacionamento fracassado com seu empresário (Richard Madden), as mais belas apresentações constituiriam uma maneira de canalizar a tristeza, a raiva ou a depressão.

    Por um lado, o discurso sobre a frustração como principal motor da criação artística corresponde a uma romantização nociva da atividade criativa. Isso impede tanto que se perceba o profissional da arte como alguém capaz de produzir dentro de uma estrutura sadia quanto que se valorize o criador enquanto indivíduo comum, dotado de uma expressão artística ao alcance de todos. O artista é percebido como o diferente, o excêntrico, aquele cujo talento representa uma recompensa às dores que vive, e para quem a busca por prazeres efêmeros (droga, álcool, sexo fácil) representa uma compensação óbvia de carências afetivas. O roteiro de Lee Hall não consegue escapar ao psicologismo superficial que separa o artista do resto da comunidade.

    Por outro lado, ao abraçar os traumas, os excessos e as inseguranças de Elton John, o diretor contamina seu filme com uma energia vibrante, traduzindo o estilo de seu personagem em escolhas estéticas apropriadas. Rocketman é um filme colorido, repleto de recursos cafonas, exagerados, barulhentos, assim como foi Elton no início da carreira. Este não é apenas um “drama com música”, a exemplo de Bohemian Rhapsody, e sim um musical no sentido estrito do termo, devido à inclusão de numerosas cenas em que os personagens cantam e dançam, rompendo com o naturalismo para abraçar a fantasia. As cenas musicais constituem o ponto mais forte do projeto por sua criatividade e pela bela maneira como reinterpretam canções de Elton John, ora transformando sensivelmente as letras originais, ora colocando-as na boca de pessoas importantes que conviveram com o artista.

    O projeto deve muito de seu sucesso ao talento do ator principal. Em poucos anos, Targon Egerton tem se mostrado um dos atores mais versáteis de Hollywood, demonstrando igual desenvoltura no drama, na comédia, na ação, com talento para a dança e o canto. Ele entrega um ótimo resultado tanto nas cenas catárticas quanto nos instantes intimistas. Infelizmente, ele se encontra diante de Bryce Dallas Howard, uma atriz que perde facilmente os limites quando mal dirigida, e neste caso recai na caricatura da mãe histérica. Em paralelo, Richard Madden transforma-se no vilão novelesco com uma rapidez espantosa, o que sublinha um sintoma marcante deste filme, que funciona muito melhor quanto lida com a psicologia do que na representação da sociedade e da família. Enquanto a investigação de sentimentos soa verossímil, a representação dos pais malvados e dos amantes insensíveis se torna novelesca.

    Além disso, o roteiro não escapa a alguns clichês comuns às cinebiografias, a exemplo dos diálogos engrandecedores – uma cena importante entre Egerton e Jamie Bell é composta inteiramente por frases de efeito. Ao menos, percebe-se um esforço notável para transmitir a sexualidade de modo multifacetado e frontal, sem demonstrar vergonha da orientação de Elton John. De modo geral, Rocketman merece ser reconhecido pela tentativa de romper com os códigos rígidos que têm prejudicado a maior parte das cinebiografias. Fletcher opta por um estilo pouco subversivo dentro do cinema como um todo, porém consideravelmente ousado para o circuito comercial.

    Filme visto no 72º Festival Internacional de Cinema de Cannes, em maio de 2019.

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    Comentários

    • maria sardé
      acho as comparações com bohemian rapsody desnecessárias
    • Fábio
      Filmaço. Quando comecei a assistir e vi que era um musical, pensei em desistir porque tenho pouca tolerância com esse gênero. Ainda bem que continuei, cinebiografia competente e envolvente. Taron deveria pelo menos ter sido indicado ao oscar 2020. Filme muito bom.
    • Jackson A L
      Filme interessante e bem executado. Apesar de não conhecer muito a história do cantor, transmitiu segurança e deu a impressão de ser o mais verossímil possível. Trata-se se de uma boa biografia!!
    • Franklim c
      Bom filme, o Taron Egerton fez um trabalho competente e a parte musical é muito boa.
    • André Luis
      Skyline Pigoen não é o maior sucesso de EJ .. ela só foi sucesso no Brasil .. e pq foi tema de uma novela .. as musicas são desconhecidas pra vc que devia só conhecer Skyline Pigeon, Sacrifice e Nikita .. lamentável.
    • Lare Viana
      Acho injusto as comparações a Bohemian Rhapsody, os dois filmes contam histórias de artistas que fizeram história e que construíram carreiras nos holofotes. Rocketman tem mais fatos verídicos e é interessante o tratamento do cantor com tudo a sua volta por causa das drogas e todas as outras coisas. Já Bohemian tem mais cenas contadas de uma forma errada pela escolha do diretor de deixar tudo mais dramático. Na minha opiião ambos são bons, assim como ambos tem defeitos.
    • bia farr
      Não sei oq dizer, o filme é bom pra caralho, foda-se, as cenas de sexo não atrapalham em nada, caralho, o filme é bom sim, porra, fodase, fiquei puto
    • klaus
      Bom. Não curto musicais mas deu pra dar uma curtida. Bom.
    • Valter Tolentino T
      LAMENTÁVEL, MUSICAS DESCONHECIDAS HORRÍVEIS,SEU MAIOR SUCESSO, SKYLINE PIGEON FOI ESQUECIDO , É PUBLICO E NOTÓRIO SUA POSIÇÃO GAY, NÃO SERIA PRECISO CENAS DE RELACIONAMENTO HOMOSSEXUAIS ,TRISTE COMO SE PODE DENEGRIR A IMAGEM DE UM ÍDOLO
    • jose barci
      O Filme e sensacional, prende vc na caderia, visual espetecular a vida do Elton é uma viagem chegando proximo a um musical porem tudo dentro do contexto até mesmo a cena Gay não choca de verdade. O relacionamento do Bernie Taupin, que é o que importa, é sensacional . Deixa o Bohemian Rhpasody no chinelo e sem dúvida o melhor filme do ano. Não entendo a baixa nota aqui.
    • Fábio Deleuze
      Melhor filme que assisti este ano até agora, deixando para trás Lady Gaga e Fred Mercury. Digno de Oscar para ator, musical, direção etc...
    • Antonio Carlos Penido Alves
      Assistí o filme e recomendo, uma autobiografia perfeita de Elton John, Egerton simplesmente arrasou, merece o Oscar !!
    • Darkangel
      não me lembro de nenhum dialogo entre eles falsie, se fosse com o John Reid pode ate ser em termos de ser forçado
    • Tatiana Wippel
      Nem eu.
    • Darkangel
      Além disso, o roteiro não escapa a alguns clichês comuns às cinebiografias, a exemplo dos diálogos engrandecedores – uma cena importante entre Egerton e Jamie Bell é composta inteiramente por frases de efeito. não lembro que cena é essa
    • Lucy
      Disse tudo. Exatamente como eu percebi o filme. Fiquei encantada e quero rever o filme também. Aconselho à todos!
    • Elsa P
      Excelente filme, que foi realizado por um actor com um profissionalismo ilimitado. Grande e marcante história, que mais uma vez faz ressaltar a importância da família como Base para uma formação afectiva, moral e inspiradora, na vida duma criança. Filme emotivo, que nos faz entender que a vida dum cantor é tudo menos a realidade que nos É mostrada. Adorei e aconselho vivamente. Um filme que me absorveu completamente, positivamente e vou rever. Muito obrigado
    • Carolina A
      Gostei desse filme não assisti BR não posso comparar, mostram os excessos dele, a parte do namoro gay, monstram mas é de leve até...o filme não esconde mas tb não é só ele lá cherando coca....
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