Sempre quando Hollywood anuncia uma refilmagem, reboot ou sequência de um clássico do cinema como Blade Runner, as pernas de um verdadeiro cinéfilo tremem. Afinal, não foram poucas as vezes em que se assassinaram grandes histórias e personagens, em prol da extração de dinheiro fácil ao relançar um título de peso da indústria cinematográfica. Felizmente, esta sequência que chega aos cinemas com mais de 30 anos de intervalo de O Caçador de Androides, não fará ninguém, nem mesmo o fã mais ortodoxo, se decepcionar.
Por mais incrível que pareça, Blade Runner 2049 consegue ser uma continuação coerente e racional, que respeita o universo esboçado por Ridley Scott e o eleva aquele raro território onde uma sequência triunfa sobre a obra original. Sob a responsabilidade de Denis Villeneuve, um dos diretores mais visionários da atualidade, somos levados a uma história que chega aos limites da perfeição de um bom roteiro, que traz um elenco talentoso e bem alinhado com seus personagens, ótimas referências e homenagens ao longa de Scott, cenários e efeitos de grande impacto visual, e sequências de ação e emoção magníficas.
A trama principal nos apresenta à uma nova espécie de replicantes, ao qual se corrigiu os problemas apresentados pela Nexus 8. K (Ryan Gosling), é um Blade Runner que caça replicantes foragidos para a polícia de Los Angeles, que após encontrar Sapper Morton (Dave Bautista), descobre que a replicante Rachel (Sean Young) teve um filho, e que este segredo, que pode desencadear uma guerra entre replicantes e humanos, foi mantido em sigilo. Ao saber desta informação, a tenente Joshi (Robin Wright), chefe de K, o envia para investigar o paradeiro da criança que representaria um avanço significativo na escala da evolutiva genética.
Certamente, esta busca já seria suficiente para fazer a história girar, mas paralelamente, presenciamos outros enredos, que em muito acrescentam ao universo da história. Um dos mais interessantes, é o relacionamento entre K e Joi (Ana de Armas), um programa de realidade virtual que possibilita uma companhia fiel e afetuosa para o replicante. Outra narrativa é encabeçada pela também replicante Luv (Sylvia Hoeks), que tem a mesma missão de encontrar e executar a criança de Rachel, e impressiona, pela frieza e determinação em seus atos de condenação da própria espécie. E há ainda, o magnata Niander Wallace (Jared Leto), que teve papel fundamental na recriação dos replicantes e na expansão da agricultura sintética.
Todos estes personagens, direta ou indiretamente, terão no desenrolar da história um forte motivo ou incidente para estar diante do saudoso caçador de androides Rick Deckard (Harrison Ford). E quando este entra em cena, e descobrimos o que um possível encontro com a criadora de memórias Dr. Ana Stelline (Carla Juri) pode significar, temos a certeza de que assim como em 1982, a história do cinema mais uma vez foi escrita.